quarta-feira, 27 de julho de 2022

SAUDADE DA MINHA MÃE.

 SAUDADE DA MINHA MÃE

Quando cheguei ao Rio de Janeiro em 1960, sem formação acadêmica, sem conhecer a cidade e sem emprego, cheio de apreensões, mas deslumbrado pela cidade, aos poucos fui me emaranhando nas teias da vida.
A generosidade entre os pobres é contagiante. Muitos se ajudam entre si e como já integrado a esse exército solidário, logo arrumaram um emprego para que pudesse custear minhas despesas.
O emprego era de “office boy” e o salário a altura de minha capacidade intelectual. Salário mínimo.
A minha principal ocupação era entregar correspondências emitidas pelo escritório ao qual trabalhava.
No início foi muito difícil, pois não conhecia os endereços, andava desordenadamente sem necessidade. Felizmente contava com a proteção da senhora administradora que pacientemente desenhava os caminhos.
Um grande dilema!
Deixei para trás uma vida confortável, minha família e especialmente minha mãe que chorava diariamente e através de cartas lacônicas pedia minha volta.
Esse arrependimento levo para a sepultura!
Quando me estabilizei no emprego, naquela época as coisas eram mais fáceis, não faltava emprego e comprava-se coisas financiadas em até 36 meses no comércio desde que tivesse um fiador
Meu projeto era comprar uma passagem de avião para visitar minha mãe no Natal.
Faltava o fiador!
Felizmente já estava enturmado numa rede de vôlei na praia e lá conheci um grande amigo que se tornou mais do que irmão.
Prontificou-se a me avalizar.
O fim do ano chegou e através da Companhia Aérea Cruzeiro do Sul fiz o voo à Belém e não via a hora de abraçar minha mãe.
Cheguei lá e ouvi sua voz lá da cozinha:
- Chegou a alegria da minha casa!!!
Ainda sinto o calor do seu abraço e meu ombro umedecido com suas lágrimas.
Quanta saudade!
Um mês passa rápido e chegou a hora da partida.
Não quis ver eu sair. Recolheu-se ao seu canto sufocada pelas lágrimas e ainda ouvi ela balbuciar:
- Deus te abençoe meu filho!
O voo fez escala em todos os aeroportos do litoral brasileiro.
Em Fortaleza a aeromoça penalizada pelo meu pranto, pois não parava de chorar, me deu um calmante.
Até hoje, não incomodo mais ninguém com meu pranto facial, porém o coração chora copiosamente todos os dias.
Certa quinta-feira Santa, me deixou!
Estou aguardando ansioso o dia de reencontrá-la para lhe abraçar e pedir desculpa de não ter atendido seu apelo.
27/07/2022
Pedro Parente.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

LINDO DIA

 Lindo dia.

Amanhecer resplendoroso. Os dias de inverno trazem consigo noites frias, clima ameno durante o dia neste ano especialmente sem nuvens no céu proporcionando um espetáculo deslumbrante, quando as árvores se despem de suas folhagens para receber a primavera que se aproxima e fecundar suas entranhas com o seu amor peculiar. 
Com a seiva renovada e suas folhagens recompostas, retribuirão a generosidade com a exuberância de flores dos mais diversas matizes
Por enquanto vou curtindo o inverno gostoso com suas nuanças.
Ao amanhecer sou dispertado naturalmente com o canto dos pássaros que habitam as árvores do meu quintal parece que chamanndo para servi-los com seu café da manhã. Para os frutívoros frutas como banana e abacate; para outros canjiquinha.
Para meus olhos um verdadeiro deleite.
As duas cachorras pachorrentas, minhas sinaleiras, se espreguiçam fazendo seu alongamento matinal.
No "fogão de lenha" uma chaleira secular aguarda o fogo para ferver a água  do café que será passado no saco tradicional de pano e dependurado no "mancebo". No forno de lenha uma saborosa broa de fubá de muinho d'agua.
Nesse clima, vou sentindo a vida passar recompensado pela lida que tive nos meus 81 anos de idade quando tinha que matar um leão por dia.
Nesta iade provecta ganhei uma nora que me presenteou com uma neta maravilhosa enchendo de alegria nossa casa.
Agarrei-os comigo não fazendo o menor esforço para que se mudem.
Espero que não esteja cometendo um ato autoritário tirando a privacidade deles.
Amo a todos. Tenho mais do que merço: três filhos três
pérolas.
25/07/2022
Pedro Parente

terça-feira, 5 de julho de 2022

POROROCA

 POROROCA

Lá no alto rio Guamá no Pará, à sua margem direita, havia o sítio Canta Galo de propriedade da minha família.

Após uma viagem de seis horas, rio acima, ladeados pela exuberante floresta amazônica, chegávamos ao nosso destino a bordo do valente Pingas o barco do meu pai que fazia o transporte dos produtos para a feira.

Dependendo da vontade da maré, chegávamos para o almoço ou jantar, pois viajávamos sempre a favor da maré que ali naquele rio enche e vaza trocando de direção.

Em Belém, esperávamos que a maré começasse encher para partirmos.

No rio Guamá acontece o fenômeno da pororoca nos meses que contém a letra “r” nas marés de lua nova ou cheia. A de lua nova é branda e a de lua cheia é mais violenta principalmente no mês de março.

Os ribeirinhos carregam com eles um temor meio místico da pororoca. Têm suas crenças e as respeitamos. 

De fato, é um fenômeno amedrontador.

Uma avalanche de água toma conta da superfície do rio provocando ondas enormes na parte mais rasa. Mantendo as proporções, um pequeno tsunami. 

Com uma força descomunal as ondas as quais eles chamam banzeiros vão arrancando as árvores menos resistentes que estão à margem do rio.

A nossa casa foi construída estrategicamente na parte mais funda do rio onde passa somente a correnteza forte. Ao lado corre um igarapé que serve de refúgio para as embarcações. Ali ela não entra, o igarapé apenas sobe o nível.

Numa posição privilegiada do alto do trapiche assistíamos aquele espetáculo intrigante.

A maré que normalmente leva seis horas para encher ao nível máximo, com a pororoca enche em quinze minutos ultrapassando a borda e inundando toda campina do Canta Galo transformando a paisagem para alegria da criançada que sem medo punha-se a saltar e nadar naquela imensa piscina.

A vida do ribeirinho é sacrificada, talvez por isso a mãe natureza lhes deu sabedoria e paz 

A solidariedade reina entre eles e os tornam uma família.

Tive a felicidade de participar daquela vida.

Saudades!

05/07/2022

Pedro Parente