sábado, 28 de junho de 2008

Causos do Lalado.

"CAUSOS" DO LALADO

No bairro do Bonfim aqui em São João del-Rei, existe uma barbearia de um mestre no ofício de cortar cabelos e, também contar “causos”.
Aconselho àqueles que sofrem de depressão ou de tristeza que experimentem um corte de cabelo ou uma barba com o Lalado.
Tenho certeza que o cidadão sairá de lá, muito mais leve, não só aparentemente com o corte do cabelo, como sairá leve por dentro ao ouvir um causo contado por esse especialista em retratar as figuras do cotidiano.
Num desses dias, fui lá acertar as pontas daquilo que restou da minha cabeleira e contou-me que, em outros tempos, havia um verdureiro na Praça do Bonfim.
Seu estabelecimento era simples, porém muito sortido. Tinha uma peculiaridade, a pinga era da melhor qualidade. Com isso, tinha uma freguesia cativa.
Numa manhã de inverno, uma rapaziada da pesada, filinhos de papai, começou a beber e tirar o gosto com tomate, outros com laranja e mexerica.
Lá pelas tantas quando o consumo da marvada pinga já era exagerado, iniciaram uma guerra de frutas, uns contra os outros.
A coisa tomou grandes proporções e foi parar no meio da rua destruindo o estoque do pobre verdureiro.
O Zé Honorato, um cidadão negro e sestroso, motorista de profissão, pois dirigia um caminhão velho que de tão velho a carroceria tinha somente o assoalho, as laterais e o fundo não existiam mais. O capô não tinha as travas, de maneira que quando o caminhão andava, o capô levantava e caia dando-nos a impressão que aquilo era a boca de um enorme jacaré, ainda mais que a boléia era verde surrado pelo tempo.
Zé Honorato conservava o sotaque de carioca e exagerava nos xis. Isso era sua marca registrada.
Naquele dia subia o morro a pé com destino à sua casa para “traçar uma mistura”, olhou aquela confusão: melancia, laranja, mamão, tomate, tudo voando. Não se fez de rogado e continuou seu caminho dentro de sua calça de linho e blusa branca social.
Ao aproximar-se daquele tumulto, levou um tomate maduro no peito, manchando sua blusa branca de vermelho.
Correu em direção à barbearia do Lalado e lá entrou esbaforido. Sentou-se numa cadeira, pos a mão na mancha vermelha na altura do peito e falou:
“-Lalado , essssssstou ferido, levei um tiro nosssssss peito”. Caprichando no sotaque.
O Lalado muito velhaco, a fim de testar o Zé, disse-lhe:
- Agüenta mão que vou chamar a ambulância.
Zé Honorato deu um salto da cadeira e falou:
- Não precisa meu amigo, a patroa é enfermeira ela faz o curativo com essssssparadrapo.

Pedro Parente
pedroparentester@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Os casos do Lalado são insólitos!!!!
Escreva outros. Tilane