Rio de Janeiro, década de 60 - Cidade Maravilhosa!
A boemia comandava o Rio.
Ali no Centro da cidade havia um prédio que abrigava a Galeria Cruzeiro, rua São
São José com Avenida Rio Branco, onde no final da tarde a alta boemia tinha
encontro marcado com o autores e intérpretes da música popular brasileira.
Ali havia um mercado entre compositores e compradores de músicas.
Normalmente, sambistas de alta categoria porém desconhecidos, desciam o
morro e se dirigiam para lá a fim de vender sua música àqueles intérpretes
que estavam em evidência.
Contam que Francisco Alves, o Rei da Voz, era o maior comprador.
Então a Galeria Cruzeiro era o point onde se tropeçava em talentos da alta
sociedade até os mais humildes boêmios e prostitutas. Embora da Lapa, algumas
vezes aparecia por lá o temido Madame Satã. Famoso homossexual que era imbatível
na porrada. Envelheceu na cadeia. No final da sua pena obteve a liberdade.
Voltou e preferiu morrer na cadeia, pois segundo ele, o mundo aqui fora perdera
a graça e ele não tinha mais ninguém. Os amigos que restavam, estavam como ele:
velhos e encarcerados.
Vida que segue.
Ante a força avassaladora do progresso na capital da
república, demoliram o prédio da galeria Cruzeiro e levantaram um arranha céus
de 30 andares.
Construção belíssima de muito bom gosto. Muitas novidades da arquitetura
moderna. As lojas, um primor.
Como não poderia deixar de ser, um grande espaço reservado à boemia e boêmios.
No sub solo, criaram os famosos pianos-bar.
Ambiente requintado, aconchegante, pouca luz música da melhor qualidade
executada em piano de cauda por profissional de primeira linha. Bebidas de toda
espécie, mas o chope capitaneava.
Para mim foi o que de melhor aconteceu.
O Rio, sempre foi "Cidade Maravilhosa" e será sempre, porém com suas mazelas.
Uma delas os alagamentos quando chovia.
Ora, eu morava no Leblon. A Voluntários da Pátria inundava, sobrecarregando
Copacabana. Conclusão o trânsito movia-se às polegadas. Principalmente na hora
de sair do emprego.
Encontrava com meu amigo Carlos Alberto, hoje decano, entrávamos no Mister Money
às 17 horas, e deixa chover lá fora.
Quando saíamos, já estava tudo calmo, próprio das madrugadas.Podíamos ir para
casa, confortavelmente em paz.
Era tão bom que pedia para chover todas as tardes.
Numa dessas noites, no Mr Money, o piano me chamou atenção. Carlos Alberto, logo
esclareceu: quem estava ali a executá-lo era nada mais nada menos do que Antonio
Maria, o rei do samba canção. Suas músicas fizeram grande sucesso na voz de Nora
Ney e Ninguém Me Ama chegou a ser gravada por Nat King Cole.
Grande pessoa. Poeta, compositor, jornalista comentarista esportivo dos bons.
Naquela noite quem o fazia companhia era Sérgio Cabral, jornalista do Jornal do
Brasil. Enquanto tive no Rio lia suas crônicas diariamente. De tanto
encontrarmos na boemia, já nos cumprimentávamos. Homem íntegro a quem dedico
grande admiração e simpatia.
Me parece que se elegeu deputado, porém um dia leu um companheiro de trabalho
duvidando da sua honestidade. Magoado desistiu da carreira política.
Imagino hoje o que lhe passa pela cabeça ao ver o filho encarcerado.
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