terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Mr Money

Rio de Janeiro, década de 60 - Cidade Maravilhosa! A boemia comandava o Rio. Ali no Centro da cidade havia um prédio que abrigava a Galeria Cruzeiro, rua São São José com Avenida Rio Branco, onde no final da tarde a alta boemia tinha encontro marcado com o autores e intérpretes da música popular brasileira. Ali havia um mercado entre compositores e compradores de músicas. Normalmente, sambistas de alta categoria porém desconhecidos, desciam o  morro e se dirigiam para lá a fim de vender sua música àqueles intérpretes que estavam em evidência. Contam que Francisco Alves, o Rei da Voz, era o maior comprador.
Então a Galeria Cruzeiro era o point onde se tropeçava em talentos da alta sociedade até os mais humildes boêmios e prostitutas. Embora da Lapa, algumas vezes aparecia por lá o temido Madame Satã. Famoso homossexual que era imbatível na porrada. Envelheceu na cadeia. No final da sua pena obteve a liberdade. Voltou e preferiu morrer na cadeia, pois segundo ele, o mundo aqui fora perdera a graça e ele não tinha mais ninguém. Os amigos que restavam, estavam como ele: velhos e encarcerados.
Vida que segue.
Ante a força avassaladora do progresso na capital da república, demoliram o prédio da galeria Cruzeiro e levantaram um arranha céus de 30 andares.
Construção belíssima de muito bom gosto. Muitas novidades da arquitetura moderna. As lojas, um primor.
Como não poderia deixar de ser, um grande espaço reservado à boemia e boêmios. No sub solo, criaram os famosos pianos-bar.
Ambiente requintado, aconchegante, pouca luz música da melhor qualidade executada em piano de cauda por profissional de primeira linha. Bebidas de toda espécie, mas o chope capitaneava. Para mim foi o que de melhor aconteceu. O Rio, sempre foi "Cidade Maravilhosa" e será sempre, porém com suas mazelas. Uma delas os alagamentos quando chovia. Ora, eu morava no Leblon. A Voluntários da Pátria inundava, sobrecarregando Copacabana. Conclusão o trânsito movia-se às polegadas. Principalmente na hora de sair do emprego.
Encontrava com meu amigo Carlos Alberto, hoje decano, entrávamos no Mister Money às 17 horas, e deixa chover lá fora.
Quando saíamos, já estava tudo calmo, próprio das madrugadas.Podíamos ir para casa, confortavelmente em paz.
Era tão bom que pedia para chover todas as tardes. Numa dessas noites, no Mr Money, o piano me chamou atenção. Carlos Alberto, logo esclareceu: quem estava ali a executá-lo era nada mais nada menos do que Antonio Maria, o rei do samba canção. Suas músicas fizeram grande sucesso na voz de Nora Ney e Ninguém Me Ama chegou a ser gravada por Nat King Cole. Grande pessoa. Poeta, compositor, jornalista comentarista esportivo dos bons. Naquela noite quem o fazia companhia era Sérgio Cabral, jornalista do Jornal do Brasil. Enquanto tive no Rio lia suas crônicas diariamente. De tanto encontrarmos na boemia, já nos cumprimentávamos. Homem íntegro a quem dedico grande admiração e simpatia. Me parece que se elegeu deputado, porém um dia leu um companheiro de trabalho duvidando da sua honestidade. Magoado desistiu da carreira política. Imagino hoje o que lhe passa pela cabeça ao ver o filho encarcerado.

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