pedro parente

sábado, 20 de janeiro de 2018

MATINTA PERÊRA

MATINTA PERÊRA - 

Lá nos latifúndios do meus avós maternos à margem direita do alto rio Guamá, coronel da guarda nacional Hilário Pedro, de quem herdei o nome, estabeleceu-se em uma casa grande e confortável e a chamou de Canta Galo.
Oriundo de Portugal, ali criou sua família, incluindo minha mãe Leopoldina ou simplesmente Leo.
Sua prole era generosa e todos moravam ali.
No meio da floresta amazônica, ainda hoje mata fechada.
A floresta traz consigo muito mistério, lendas e fetiche. 
 Por lá, o mais corriqueiro e respeitado mistério é a Matinta Perêra. 
 Trata-se de um sibilo forte aqui e em sequência, voz cavernosa acolá, como se viesse de dentro de um túmulo pronunciando "Matinta Perêra!'.
O caboclo lhe dedica respeito profundo. Muitos tem medo apavorante.
Escutei muitos casos acontecidos por lá, porém o que minha mãe contava era o que mais me assustava.
Contava ela que uma determinada noite, antes de dormir, em seu quarto iluminado apenas pela luz tosca de uma lamparina à querosene. Sentada em sua rede com outras duas irmãs, cada uma na sua, durante a oração que faziam antes de deitar. Ali no meio delas o sibilo estridente e em seguida já vindo de longe, a voz cavernosa "Matinta Perêra".
Assustadíssimas com a voz baixinha perguntaram entre si: Fostes tu?
Naquela noite meus avós dormiram acompanhados das três meninas apavoradas.
O tempo passou meu pai assumiu o comando da fazenda que chamavam sítio. Trabalhava em Belém e nos finais de semanas íamos num barco dele que fazia o transporte das mercadorias do sítio para a feira. 
Tinha como objetivo administrar um pequeno negócio que abastecia os colonos de víveres feitos à base do escambo.
Mantinha uma escrivaninha em um cômodo grande que usava para fazer as contas. Ali dormia seu homem de confiança chamado Feliciano.
Numa madrugada meu pai acendeu um potente candeeiro Petromax a querosene e de camisinha. Luz forte e ofuscante pela alça colocou-o do lado de fora da casa iluminou a campina toda e murmurou:
- Agora queria ver a tal Matinta Perêra!
Inexplicavelmente a luz do candeeiro foi diminuindo e ele bombando freneticamente o recipiente próprio, não adiantou, apagou.
No mesmo instante a Matinta soltou seu assobio ensurdecedor.
Feliciano esticado em sua rede presenciara tudo, falou:
- É seu Timótheo, Matinta lhe deu uma nota!
No dizer deles "Tirou um sarro".
Como se tratava de homens cascudos, restou a risada.

20/01/2018
Pedro Parente





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Postado por pedro parente às 04:58

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