domingo, 21 de junho de 2020

DIGNIDADE

DIGNIDADE
Em 1981 arrendei um Posto de Gasolina para administrar. É uma prática comum nas empresas de petróleo, quando sentem que o administrador está desmotivado, passar para outro sem prejuízo do fundo de negócio.
No meu caso peguei o Posto vendendo 80 mil litros de combustível e consegui levar até os 300 mil/mês. Gostei do trabalho que se refletiu no sucesso.
Oriundo de fábricas de tecidos e time de futebol me sentia muito bem lidando com pessoas das mais diferentes personalidades. Por esses lugares que passei fiz grande amigos e se deixei algum inimigo, desconheço. Tanto que nos 14 anos no comando do Posto, não tive nenhuma reclamação trabalhista contra a firma.
No Posto não foi diferente é um emprego de alta rotatividade. Normalmente jovens iniciando a vida. Logo em seguida arranjam serviço melhor.
Entre os funcionários hoje quero destacar um pelo fato que aconteceu.
Vindo do sertão pernambucano, interiorzão brabo me apresentaram um cidadão chamado Antônio que necessitava de emprego pois havia constituído família aqui na cidade.
Era um homem forte, embrutecido pelas intempéries daquela terra seca. Mãos calejadas e pele sulcada na face aparentando idade além da que tinha.
Tenho admiração por pessoas daquela região. A maioria tem caráter íntegro. Alguns degeneram.
Coloquei-o como vigia.
Numa madrugada do mês de julho, num daqueles invernos rigorosos, tive necessidade de sair de madrugada para ir a Texaco em Betim.
Quando cheguei no Posto para pegar meu carro, o pobre coitado estava embrulhado da cabeça aos pés na pista e não me viu sair.
Quando voltei me deram a notícia de que ele, com vergonha de não ter me visto sair, não voltaria mais ao trabalho.
Fiquei penalizado e incomodado. Pedi que o gerente fosse à sua casa para convencê-lo.
Não adiantou, mandou pedir desculpa e que não tinha coragem de olhar na minha cara.
Tive que mandar seu acerto de contas em sua casa.
Lamentável, perdi um funcionário de caráter.
21/06/2020
Pedro Parente

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