segunda-feira, 15 de junho de 2020

SARAU DA PANDEMIA

SARAU DA PANDEMIA
Ao meu amigo, irmão e companheiro Cláudio Lopes.
Nestes dias de pandemia e clausura nos reunimos Cláudio, Luiz e eu aqui em casa como se fôssemos pássaros fugidos da gaiola.
Iniciamos como três senhores comportados obedecendo o ritual imposto pela OMS Organização Mundial de Saúde. Distanciamento, máscara e outros adereços mais.
Eu e Luiz optamos pelo tradicional vinho lembrando nossas origens da “Bota”. O Cláudio trouxe sua cerveja pois tem preferência pela mais leve comunicando que seu “alvará” seria somente até as 16h.
Até o término da primeira garrafa, foram mantidas todas as formalidades. Pela metade da segunda a máscara já estava protegendo a nuca e o distanciamento parecia ter ido pro brejo. Tudo indicava que a confraternização exigiria um grande tríplice abraço fraternal.
Inexplicavelmente mantivemos a distância!
Numa explosão de alegria viramos um bando de maritacas, todos falando ao mesmo tempo e quem falasse mais alto, ficava com a palavra.
Justificável! Mais de três meses conversando em monólogo com o computador;
Velhos amigos, velhas histórias! 
Deixamos os momentos tristes de lado e nos atiramos às lembranças de momentos felizes e alegres! Foi quando o Luiz Casano se lembrou de um almoço em Belo Horizonte num restaurante especialista em carnes exóticas. 
Para nós era fato corriqueiro comer carne de animais silvestres, pois nossos pais tinham o hobby de caçar. Não era proibido e era um hábito vindo de nossos ancestrais. Como consumidores conhecíamos a anatomia e o sabor das carnes desses animais. Nossa preferida é a carne da paca.
Fomos salivando a manhã inteira pensando em saciar a vontade com uma bela paca.
O restaurante muito aconchegante e bucólico com mesas espalhadas sob árvores frondosas e uma parte coberta devassada e muito arejada. Lugar ideal para nosso almoço que nunca demorava menos de quatro horas.
Os garçons numa correria disputavam os pedidos dos fregueses e aos berros informavam ao homem do caixa.
Em cinco minutos já havíamos feito nosso pedido e o garçom gritou:
- Sai uma paca, duas pingas e uma Brahma!
O prato veio muito bem servido e saboroso, porém nos entreolhamos e falamos em uníssono: 
- Isto não é paca é coelho!
Como determina o manual dos boêmios: “o bom cabrito não berra.”
Chamei um outro garçom que estava mais próximo e pedi:
- Traz outro coelho!
O garçom que não sabia de nada, inocentemente berrou o pedido para o homem do caixa:
- Sai mais um coelho!
Aí o tempo fechou entre os dois garçons. O primeiro que havia servido a “paca” um prato muito mais caro e por tanto representava uma comissão maior, veio voando pra cima daquele último.
- Eles comeram foi paca e não coelho! 
O bate boca esquentou e para acabar com a discussão pedimos que servissem mais uma paca.
MAS QUE ERA COELHO ERA!
Concluímos nosso convescote com o Cláudio, com seu alvará já estourado em mais de quatro horas, ao violão cantando velhas canções italianas na voz do nosso Caruso - Luigi!
Detonamos cinco garrafas de um bom vinho Chileno em homenagem também ao Deus Baco!
Já mais calmos e tontos, nos entregamos a Morfeu.
15/06/2020
 
Pedro Parente
 




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