terça-feira, 2 de junho de 2020

PELADA DE SÁBADO

PELADA DE SÁBADO.

A turma do bar tinha também seu dia de atleta, com objetivo nobre de exercitar os músculos e tentar manter um preparo físico razoável, embora o objetivo principal seria o após jogo, claro que ninguém é de ferro e nem tanto atleta assim, mirávamos mais o copo do que a bola.
Durante a semana nosso amigo e companheiro de fábrica Nonato era o responsável de arrumar o adversário para o próximo encontro futebolístico. A convocação dos nossos atletas era fácil, feita ali na mesa do Bar da Dª Ester onde a maioria se reunia.
Num desses sábados, Nonato combinou que a pelada seria num campinho que funcionava precariamente, pois não estava concluído. O campo de pequena dimensão era a medida exata para os nossos atletas que não gostavam de correr muito atrás da bola.
Numa das laterais havia alguns detalhes relevantes e inseguros. Para que a linha do quadrilátero pudesse ser traçada, foi necessário escavar o morro manualmente com o auxílio da mão de obra da comunidade. A outra metade da mesma lateral era mais perigosa, um desbarrancado sem proteção nenhuma e logo a baixo havia uma singela moradia da Dª Rosa. Uma senhora simpática e muito solidária. Morava sozinha e tinha dificuldades em manter a casa com a pensão do marido já falecido.
Nosso heroico lateral direito escalado naquela tarde foi o impagável Mijoleta. Baixinho, invocado, falava grosso que nem besouro e quando chapava um copo liso da “marvada” suava que nem panela de pressão. Fazia a alegria quando debulhava as cordas do seu surrado violão sobrevivente de longas noitadas.
O jogo seguia muito bem num compasso de procissão, quando lançaram uma bola alta nas costas do Mijoleta. A bola vindo e ele recuando de costas para o desbarrancado, quando percebeu que não tinha jeito de parar, deu um salto mortal de costa e caiu em pé se esborrachando no telhado da Dª Rosa que tranquilamente preparava sua janta.
Foi um “Deus nos acuda!”
Dª Rosa apavorada achando que havia caído um avião na sua cabeça, abriu a porta da casa e desceu o morro berrando pedindo socorro.
Acabou o jogo deixamos o campo. Nosso time e a torcida cabiam num fusca.
Segunda feira pedimos desculpas a Dª Rosa, mandamos reparar o telhado destruído pela queda do Mijoleta e já entramos em concentração para o  jogo do próximo fim de semana.
Vida de atleta é sacrificada!
02/06/2020
Pedro Parente


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