NATAL
Mais um.
A árvore sem viço e as bolas opacas são marcas do tempo que passou.
Quando a instalei pela primeira vez, ela era verdejantemente bela ornada com suas bolas douradas e reluzentes.
O espírito natalino dava um clima de alegria e enlevo à ribalta montada para os pequenos atores que extasiados colocavam pacientemente, ou excitantemente, os penduricalhos na árvore para que ficasse bem bonita à suas vistas.
Em seguida aos pés da árvore, depositavam-se os embrulhos de presentes.
Aos atores, as crianças, aguçavam-lhes a curiosidade em identificar qual seria o presente de cada um.
Impossível não se contagiar com aquele clima de amor fraterno peculiar à data.
Na retaguarda, lá na cozinha, o trabalho era dobrado. Cada pessoa com sua tarefa. Uns no fogão, outros na confeitaria.
À medida que o tempo passava, a excitação da criançada ia junto. Para extravasar tanta energia a correria entre elas era inevitável. Era hora de colocar ordem.
- Todas as crianças para o quintal! Determinava a autoridade da dona da casa.
Finalmente chegada a hora da distribuição dos presentes, esfregando as mãozinhas, colados uns aos outros, recebiam suas prendas preciosas e às pressas rasgavam os papéis dos invólucros, transformando em segundos aquelas obras de arte e paciência em um amontoado de papel sem valor.
O maior presente não era o deles, mas sim o nosso. De quem proporcionava aquele momento indescritível de felicidade àquelas crianças.
O prazer de dar é maior do que o de receber.
Os anos passaram. Os atores daqueles espetáculos cresceram. Hoje atuam em outros palcos com outros cenários.
A casa já não é a mesma. Já demonstra suas marcas como se fossem rugas ou cicatrizes.
Na sala, os atores somos nós, velhos, cansados com as chagas expostas pelas perdas de nossos parentes e amigos.
Aqueles que pulavam em nosso colo beijando-nos e agradecendo-nos, estão envolvidos com outras famílias adquiridas pela perpetuação da espécie. Tornaram-se o fulcro em suas casas.
Restou-me minha árvore esmaecida com suas bolas opacas.
Dirijo a ela meu olhar de carinho conivente com a vida que passou.
Pedro Parente
pedroparentester@gmail.com
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