“PAISE NO PIDAL”.
Naqueles
tempos em São João del-Rei, as opções de lazer não eram muitas e a rapaziada usufruía
intensamente de todas elas.
Durante
o dia, em época de calor era mais fácil com a opção de várias cachoeiras, poços
e as Águas Santas.
A
noite se resumia em menos alternativas e as pessoas escolhiam o que lhes mais
agradava.
Os
bares já existiam em menos quantidade e de maneira mais formal. Não ficava
barato frequentá-los diariamente.
Alguns
rapazes amantes do jogo se deliciavam nos ótimos salões de bilhar e sinuca que
àquela época era um grande atrativo.
Mesas
grandes forradas de pano verde, iluminadas por lâmpadas que desciam do teto até
próximo à mesa, protegidas por plafonier para não encandear os jogadores.
Silêncio absoluto. Só ouvia-se o barulho do taco de madeira jogando bolas
pesadas uma contra outras em direção à caçapa. Muita fumaça de cigarros que
ajudavam os jogadores manterem a calma.
As
apostas eram feitas em surdina, pois era proibido “jogo a dinheiro”.
Outros
preferiam a Rua da Cachaça onde iam cortejar as moças da “vida fácil”.
A
outra opção era a sala de cinema.
Já
existia o Cine Glória. Esta era a mais procurada opção desde que passasse um
filme com atores renomados. As chanchadas da Atlântica faziam um sucesso
absoluto. Faziam-se filas imensas para aquisição dos ingressos.
O
charme do cinema era a sala de espera. Normalmente um ambiente espaçoso onde
todos caprichavam no figurino e ficavam fazendo pose, moças e rapazes se entreolhando.
Os casados, normalmente sérios para impor respeito.
Por
ser um lugar muito movimentado, exigia certos requisitos para atender às
necessidades dos frequentadores qual seja sanitário e água potável.
Certa
noite o proprietário substituiu a velha talha de barro por um moderno bebedouro
elétrico com esguicho de água gelada. Uma novidade!
Todos
ficaram desconfiados sem saber como acionar aquela geringonça. Um funcionário
percebeu e explicou a todos que era só pisar no pedal, pois estava lá escrito
em alto relevo.
Logo
depois da explicação, entrou um cidadão acompanhado de um amigo. Ele tinha o
hábito de ler tudo com sotaque da língua inglesa, esbanjando desta forma sua
cultura poliglota.
Ao
deparar-se com a máquina que todos chamam bebedouro, desconfiado e com a mão no
queixo, olhou para o pedal da máquina e mandou alto e bom som com o sotaque carregado
para que todos ouvissem: “PAISE NO PIDAL”. PISE NO PEDAL com sotaque britânico.
Ficou
sem beber água!
16/05/2019
Pedro
Parente
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