A
PESCARIA
A turma era animada. Não tinha tempo ruim, nem
sovinice todos perdulários e destemidos.
O motivo não interessava, mas era festa todos os
dias da semana na “mesa zero” da Cantina Calabresa.
Numa noite, alguém sugeriu uma pescaria no “Velho Chico”.
Na mesma hora foram traçados os planos e já saímos dali, cada um com uma ideia
na cabeça. Os telefones fixos não paravam. Não havia celulares. Até que
chegasse a noite seguinte.
Pronto! Tudo pronto! Sem dificuldade os empecilhos
foram todos resolvidos. Nosso amigo Ibsen gerente do Banco Real possuía uma
casa em São Romão às margens do rio São Francisco.
Sendo a turma muito grande, lá naquele Banco
financiamos um ônibus usado que comportasse a turma, a tralha, o freezer lotado
de latas de cerveja e alguns garrafões de cachaça, que não poderiam faltar.
Vários assentos tiveram que ser removidos para que coubesse tudo.
Dia marcado, em frente a igreja de São Gonçalo,
encostou a viatura. No comando o Waldemar profissional do ofício e que
transportava combustível para o posto de gasolina ao lado do Edifício São João.
Ele tinha muitos quilômetros rodados e de pouco beber bebida alcoólica,
principalmente dirigindo. Estávamos em boas mãos.
Após algumas paradas efêmeras para ligar o freezer e
abastecê-lo de energia, conseguimos chegar a Pirapora.
Combinamos que devido à distância que a percorrer,
140 km de estrada de terra, era só almoçar rapidamente e seguiríamos em frente.
Quem disse?
A turma que não podia ver mesa, bom tira gosto e especialmente
boa pinga, se esquecia do tempo. Não deu outra.
A primeira garrafa foi consumida numa rodada só.
Outras foram vindas. As luzes da cidade acenderam e começou um forró em frente
ao restaurante. Na praia cercado de bambus alguns dançarinos foram exibir suas
qualidades de “moço da cidade” e se enfaceirar com as “canelinhas” alcunha das
morenas de lá.
Os mais responsáveis começaram a ficar impaciente
querendo prosseguir viagem, inclusive por causa do sono do motorista.
Após muita conversa e os comensais já lotados de
tira gosto e pingas, aquiesceram.
Vamos embora!
Após rodarmos uns vinte quilômetros no asfalto,
entramos na estrada de terra. Estreita e eucaliptos de ambos os lados.
Guilherminho substituiu o Waldemar na direção do
“grizú”, (apelido do ônibus) e conseguimos chegar em São Romão com o raiar do
sol.
Uma trabalheira louca para colocar as coisas no
lugar. Éramos 17 homens.
A casa do nosso amigo era boa espaçosa. Ela tinha
uma varandinha que antigamente chamavam de alpendre com um telhadinho apoiado
em uma das pontas por um barrote de madeira. Meu amigo Robenson foi se apoiar
quase o telhado veio ao chão. O barrote estava solto.
Calor insuportável, mosquito borrachudo a vontade,
não estava confortável. Ao lado do freezer ficamos por ali aproveitando uma
aragem desgarrada. De vez em quando o ruído singular de mais uma lata de cerveja
aberta. O garrafão de pinga parecia estar furado, baixando numa velocidade
frenética.
Nô Carbajal figura conhecidíssima do povo ligado à
música e a boêmia era fundamental na turma. Inteligente e exímio cavaquinhista nos
dava muita alegria com seus toques e trejeitos. Naquele momento começou a
executar uma de suas músicas prediletas aí se somou uma timba, violão do Murilo
e a gaita do Asa Quebrada.
Eis que surge de dentro da casa Maurilúcio por todos
conhecidos como “Cafezinho”. Figura formidável. Amigo nota mil. A figura
personificada do mineirinho sestroso, maneiro que gosta de bater uma catira e
de jogar conversa fora. Um figuraço!
Trazia nas mãos a vara com molinete a caixa de metal
com separadores, cheia de anzóis e as coisas de pescaria cuidadosamente
arrumadas pelo Claro. Na cabeça, um capacete de segurança encontrado na casa.
Disse:
- Agora que terminei meus afazeres, vou pescar!
Era só atravessar a rua e a barranca do rio estava
ali.
E lá se foi o Café todo lépido.
Em seguida ouvimos seu grito pedindo ajuda. Corremos
em seu socorro lá vinha ele subindo a barranca aos trancos e barrancos com os
anzóis esparramados pelo mato, braços e peito cortados pelos espinhos de
japecanga, uma trepadeira própria da barranca
com cara de espanto contou que tropeçou numa raiz aqui em cima e foi
parar dentro do rio. Cheio de sangue ficou com medo de ser devorado pelas
piranhas.
De resto o capacete de obra flutuando na correnteza
do “Velho Chico” como o cesto de Moisés.
Vida que segue!
22/07/2019
Pedro Parente.
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