sábado, 16 de janeiro de 2021

PASTELARIA OK

 PASTELARIA OK.


Em São João del-Rei no quarteirão da “muvuca” onde antigamente, devido à concentração de bons bares e da Cantina Calabresa, havia um em especial, que atraia a atenção das pessoas a Pastelaria Ok. Nome sofisticado para a época quando não era comum estabelecimento com expressões de outras línguas em seus anúncios. Um baiano desavisado achou que OK era Zero Kilometro!

Ali era uma comunidade formada por pessoas de diversas qualificações isentas de preconceitos e por isso mesmo todos viviam em harmonia.

O estabelecimento era pequeno. Tipo uma garagem de automóvel, um retângulo de porta larga. Um balcão pintado de azul marinho e fechado na frente por vidros transparentes que serviam com expositor, aliás, ali só me lembro de ter visto uma caixa de chicletes que permaneceu intacta até o fim do estabelecimento. Nunca foi consumido um único Chicletes os frequentadores não faziam uso a preferências era o pastel. Seis pessoas lotavam o bar e pela marca do cotovelo do freguês, já se sabia de quem era aquele lugar

Tornou-se famoso pela qualidade dos pastéis fritos na hora, apenas de queijo, carne moída e pela pinga com mel feita pelo proprietário Pedro Pasteleiro que passou a ter a alcunha como sobrenome.

Cidadão correto, trabalhador, falava baixinho e de pouca conversa, porém muito respeitoso e atencioso. Abria o estabelecimento cedinho e começava sua lida esticando a massa em um par de rolos mecânico até ficar finíssima. Trabalhava sem ajudante, eventualmente seu pai. Chegava pilotando sua Rural impecável. Até hoje deve estar do mesmo jeito.

Devido sua posição no quarteirão, possuía uma peculiaridade, servia de ponto de observação das moças descuidadas que saíam do colégio das freiras com seus uniformes de saia de alças e blusa que ao chegarem ali, eram surpreendidas por um vento indiscreto colocando suas vestes íntimas expostas aos olhares cobiçosos dos transeuntes e frequentadores do bar.

Entre os frequentadores haviam dois padres. Um negro alto e forte, óculos de grau verde com arco de casco de tartaruga, admirado e querido de todos. Só usava batina cinza, aliás, raridade. O amigo dele e nosso também, era mais requintado, andava à paisana e fumava com piteira.

Num desses dias passou caminhando displicentemente pela calçada do bar, uma morena de vestido curto e o corpo escultural em cima de dois sapatos de salto alto provocativa deixando a moçada alucinada. Logo todos correram para a porta da pastelaria a fim de curtir mais um pouquinho aquele show de sensualidade.

Os dois vigários, solidários com a turma também foram “pescoçar” aquela visão que poderia ser da virgem, ou não!

Sem perceber, a moça virou a esquina e desapareceu.

Os dois sacerdotes se entreolharam e um deles falou, em bom “minerês”:

- Uai cumpadi. Si num tivé céu nós levô manta!

- Pasteleiro. Bota mais uma!

16/01/2021

Pedro Parente.


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