terça-feira, 5 de julho de 2022

POROROCA

 POROROCA

Lá no alto rio Guamá no Pará, à sua margem direita, havia o sítio Canta Galo de propriedade da minha família.

Após uma viagem de seis horas, rio acima, ladeados pela exuberante floresta amazônica, chegávamos ao nosso destino a bordo do valente Pingas o barco do meu pai que fazia o transporte dos produtos para a feira.

Dependendo da vontade da maré, chegávamos para o almoço ou jantar, pois viajávamos sempre a favor da maré que ali naquele rio enche e vaza trocando de direção.

Em Belém, esperávamos que a maré começasse encher para partirmos.

No rio Guamá acontece o fenômeno da pororoca nos meses que contém a letra “r” nas marés de lua nova ou cheia. A de lua nova é branda e a de lua cheia é mais violenta principalmente no mês de março.

Os ribeirinhos carregam com eles um temor meio místico da pororoca. Têm suas crenças e as respeitamos. 

De fato, é um fenômeno amedrontador.

Uma avalanche de água toma conta da superfície do rio provocando ondas enormes na parte mais rasa. Mantendo as proporções, um pequeno tsunami. 

Com uma força descomunal as ondas as quais eles chamam banzeiros vão arrancando as árvores menos resistentes que estão à margem do rio.

A nossa casa foi construída estrategicamente na parte mais funda do rio onde passa somente a correnteza forte. Ao lado corre um igarapé que serve de refúgio para as embarcações. Ali ela não entra, o igarapé apenas sobe o nível.

Numa posição privilegiada do alto do trapiche assistíamos aquele espetáculo intrigante.

A maré que normalmente leva seis horas para encher ao nível máximo, com a pororoca enche em quinze minutos ultrapassando a borda e inundando toda campina do Canta Galo transformando a paisagem para alegria da criançada que sem medo punha-se a saltar e nadar naquela imensa piscina.

A vida do ribeirinho é sacrificada, talvez por isso a mãe natureza lhes deu sabedoria e paz 

A solidariedade reina entre eles e os tornam uma família.

Tive a felicidade de participar daquela vida.

Saudades!

05/07/2022

Pedro Parente


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