quinta-feira, 9 de maio de 2024

SAUDADE DA MINHA MÃE.

 SAUDADE DA MINHA MÃE

Quando cheguei ao Rio de Janeiro em 1960, sem formação acadêmica, sem conhecer a cidade e sem emprego, cheio de apreensões, mas deslumbrado pela cidade, aos poucos fui me emaranhando nas teias da vida.
A generosidade entre os pobres é contagiante. Muitos se ajudam entre si e como já integrado a esse exército solidário, logo arrumaram um emprego para que pudesse custear minhas despesas.
O emprego era de “office boy” e o salário a altura de minha capacidade intelectual. Salário mínimo.
A minha principal ocupação era entregar correspondências emitidas pelo escritório ao qual trabalhava.
No início foi muito difícil, pois não conhecia os endereços, andava desordenadamente sem necessidade. Felizmente contava com a proteção da senhora administradora que pacientemente desenhava os caminhos.
Um grande dilema!
Deixei para trás uma vida confortável, minha família e especialmente minha mãe que chorava diariamente e através de cartas lacônicas pedia minha volta.
Esse arrependimento levo para a sepultura!
Quando me estabilizei no emprego, naquela época as coisas eram mais fáceis, não faltava emprego e comprava-se coisas financiadas em até 36 meses no comércio desde que tivesse um fiador
Meu projeto era comprar uma passagem de avião para visitar minha mãe no Natal.
Faltava o fiador!
Felizmente já estava enturmado numa rede de vôlei na praia e lá conheci um grande amigo que se tornou mais do que irmão.
Prontificou-se a me avalizar.
O fim do ano chegou e através da Companhia Aérea Cruzeiro do Sul fiz o voo à Belém e não via a hora de abraçar minha mãe.
Cheguei lá e ouvi sua voz lá da cozinha:
- Chegou a alegria da minha casa!!!
Ainda sinto o calor do seu abraço e meu ombro umedecido com suas lágrimas.
Quanta saudade!
Um mês passa rápido e chegou a hora da partida.
Não quis ver eu sair. Recolheu-se ao seu canto sufocada pelas lágrimas e ainda ouvi ela balbuciar:
- Deus te abençoe meu filho!
O voo fez escala em todos os aeroportos do litoral brasileiro.
Em Fortaleza a aeromoça penalizada pelo meu pranto, pois não parava de chorar, me deu um calmante.
Até hoje, não incomodo mais ninguém com meu pranto facial, porém o coração chora copiosamente todos os dias.
Certa quinta-feira Santa, me deixou!
Estou aguardando ansioso o dia de reencontrá-la para lhe abraçar e pedir desculpa de não ter atendido seu apelo.
27/07/2022
Pedro Parente.

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