HERESIA
Tempos pretéritos aqui na cidade onde moro. Uma cidade do interior de Minas muito famosa por seus tesouros culturais e obras magistrais pintadas ou entalhadas nas belas igrejas barrocas reminiscentes do período da caça ao ouro abundante nas serras e nos córregos de São João del-Rei.
A vida corria mansamente disputando porfia com o córrego do Lenheiros que corta o Centro Histórico. Ninguém era identificado pelo CPF e sim pelo parentesco e também, por apelido.
Assim foi que pela ausência de luz elétrica, todas as casas, principalmente na roça e na periferia, a iluminação era feita com lampiões, candieiros e lamparinas abastecidos com querosene.
Um cidadão simples viu nessa carência uma oportunidade de ganhar um dinheirinho a moda “mineirinho”.
Tinha um caminhãozinho velho. Colocou nele um pequeno tanque de cinco mil litros, encheu de querosene e abastecia fazendas e as comunidades retiradas, com isso foi juntando “os cobres” e tornou-se um próspero comerciante no transporte de combustíveis.
Na época que eu administrava um Posto de gasolina ele possuía duzentos e cinquenta carretas.
O homem era devoto fervoroso de NS Aparecida. Toda carreta zero que comprava, mandava lá no santuário de Aparecida para que o padre benzesse e entronizasse na cabine uma imagem da santa. Exigia respeito dos motoristas à imagem.
Eu tinha um conhecido chamado Fernando que se orgulhava do seu trabalho como motorista de uma das carretas da frota do homem pois era bem remunerado.Motorista muito cuidadoso e asseado, sua cabine era um brinco. Não se via qualquer vestígio de poeira.
Certo dia, quando limpava a boleia da sua carreta, tirou tudo de dentro inclusive a santinha, e colocou no chão para aspirar os bancos.
Não é que o dono das carretas, dando uma fiscalizada no pátio, encontrou a imagem no chão.
Demitiu o Fernando na hora.
Para o resto da vida ficou com o apelido de
FERNANDO QUEBRA SANTA.
27/11/2023
Pedro Parente
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