segunda-feira, 27 de novembro de 2023

HERESIA

 HERESIA

Tempos pretéritos aqui na cidade onde moro. Uma cidade do interior de Minas muito famosa por seus tesouros culturais e obras magistrais pintadas ou entalhadas nas belas igrejas barrocas reminiscentes do período da caça ao ouro abundante nas serras e nos córregos de São João del-Rei.

A vida corria mansamente disputando porfia com o córrego do Lenheiros que corta o Centro Histórico. Ninguém era identificado pelo CPF e sim pelo parentesco e também, por apelido.

Assim foi que pela ausência de luz elétrica, todas as casas, principalmente na roça e na periferia, a iluminação era feita com lampiões, candieiros e lamparinas abastecidos com querosene.

Um cidadão simples viu nessa carência uma oportunidade de ganhar um dinheirinho a moda “mineirinho”.

Tinha um caminhãozinho velho. Colocou nele um pequeno tanque de cinco mil litros, encheu de querosene e abastecia  fazendas e as comunidades retiradas, com isso foi juntando  “os cobres” e tornou-se um próspero comerciante no transporte de combustíveis. 

Na época que eu administrava um Posto de gasolina ele possuía duzentos e cinquenta carretas.

O homem era devoto fervoroso de NS Aparecida. Toda carreta zero que comprava, mandava lá no santuário de Aparecida para que o padre benzesse e entronizasse na cabine uma imagem da santa. Exigia respeito dos motoristas à imagem.

Eu tinha um conhecido chamado Fernando que se orgulhava do seu trabalho como motorista de uma das carretas da frota do homem pois era bem remunerado.Motorista muito cuidadoso e asseado, sua cabine era um brinco. Não se via qualquer vestígio de poeira.

Certo dia, quando limpava a boleia da sua carreta, tirou tudo de dentro inclusive a santinha, e colocou no chão para aspirar os bancos.

Não é que o dono das carretas, dando uma fiscalizada no pátio, encontrou a imagem no chão.

Demitiu o Fernando na hora.  

Para o resto da vida ficou com o apelido de 

FERNANDO QUEBRA SANTA.

27/11/2023

Pedro Parente

 



































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