quinta-feira, 25 de julho de 2024

 OS BARROSO.


Oriundo de Lisboa, meu avô de quem herdei o nome Hilário Pedro, migrou com sua família para o Brasil trazendo muito dinheiro que comprou do governo brasileiro glebas imensas de terras no Alto Guamá. 

Membro da família do Almirante Barroso, herói da batalha do Riachuelo, impunha respeito naquelas bandas pouco habitadas tendo adquirido o título de Cel. Da Guarda Nacional tornando-se responsável pela segurança da área adquirida.

Construiu uma grande fazenda e lhe pôs o nome de Canta Galo. Explorava o extrativismo de cacau, madeira e várias outras riquezas da mata. 

Logo Canta Galo virou um grande entreposto de compra e venda de produtos. Alí Os colonos eram abastecidos de gêneros vindos da cidade de Belém, açúcar, café e principalmente querosene que abastecia as lamparinas e candeeiros, pois não havia eletricidade. Anos depois criaram uma geladeira que funcionava com querosene e chamava-se Gelomatic.

Foi um sucesso!

Casou-se com minha avó uma brasileira de Ourém-PA ou São Miguel do Guamá que trazia em suas veias o sangue índio. Segundo mamãe ele carregou sua esposa em seu colo quando nasceu. A diferença de idade entre os dois era de mais de vinte anos ao se casarem. 

O homem era astuto!

No Largo da Sé em Belém construiu um sobrado de dois andares. Muito bonito. A frente do imóvel era para a praça e os fundos iam até a baia onde tinha um trapiche para descarregar os produtos vindos de sua fazenda através de sua lancha chamada Leopoldina, nome da minha mãe.

A parte de baixo era depósito de mercadorias, a cozinha, o dormitório das mucamas, arrumadeiras, passadeiras e cozinheiras.

A parte de cima, um luxo! 

Dormitório da família e um lindo salão de festas. Mobiliário refinado para receber os convidados para grandes festas proporcionadas pelo vô Hilário que já tinha uma grande reputação entre os políticos e autoridades eclesiásticas.

Essa obra de arte durou até a ditadura. Foi requisitada pelo Exército juntamente com o restante do casario colonial daquela época.  

Tudo demolido e transformado em área de lazer.

O sobrado do meu avô é o primeiro da foto. Era um primor seu interior.



 

Ali foi a raiz dos Barroso da minha geração. Não tenho muitas informações que gostaria muito de possuir, pois quando vim ao mundo o vô já tinha falecido.

O casal produziu uma prole de sete filhos, dois homens e cinco mulheres.

Um deles formou-se em piloto de Longo Curso da Marinha Mercante e veio para o sul comandando o navio Santos. Trouxe consigo uma de suas irmãs, a Emília para cuidar de sua casa enquanto estivesse em alto-mar. Casou-se com tia Lilasia. Teve dois filhos Lysis e Lúcio.

Tio Antônio tinha o apelido de Beba. Comprou um terreno em Ipanema e foi criticado pelos colegas porque ali só existia areia. Ninguém pensava que aquele bairro seria o que é hoje. Construiu um belo bangalô com quintal na rua Barão da Torre no Rio de Janeiro.

Após sua morte o imóvel foi vendido e com o produto foram comprados dois apartamentos e uma casa todos na zona sul que abrigaram tia Lilásia, Lysis e Lúcio.

Tia Lilásia passando certa dificuldade internou os primos no colégio salesiano de São João del-Rei,

A família ficou separada. Tínhamos curiosidade de conhecer os primos.

Em 1951 Lysis e Lúcio finalmente chegaram e ficaram hospedados no sobrado do Largo da Sé na casa da Dindinha (Tia Maria).

Recebidos com alegria foram brindados com uma grande mesa repleta de iguarias do Pará. A noite uma bela festa nos salões encantados do sobrado.

São histórias que dariam para publicar uma enciclopédia, porem me detenho na chegada dos primos por ter sido um momento que marcou minha feliz infância.

Os primos se entrosaram rapidamente com a gente, meus irmãos mais velhos tinham a mesma idade. 

Adoraram os banhos de igarapés e finalmente chegamos até nossa casa na ilha de Mosqueiro.

 


Na Praia Grande de frente para a Ilha de Marajó separadas pela baia de Santo Antônio. A distância é tão grande que de uma ilha não se avista a outra. 

Casa fresca avarandada toda de madeira sombreada de mangueiras onde passávamos as férias.

Na praia em frente a casa correu logo a notícias de visitantes do Rio de Janeiro, fato raro pois Belém era ligada ao sul somente por navio ou avião, não havia estada.

Lúcio com habilidade deslizava de peito sobre a marola que quebrara na areia. Foi até aplaudido pelos banhistas. Lysis se fartava com as comidas principalmente a maniçoba.

Havia um lugar para dançar e pra lá foram todos os rapazes tomar umas e dançar com as moças. Os nativos enciumados procuraram encrenca com nossos cariocas e o pau quebrou.

Brigaram todos, mas o prejudicado foi o Lúcio com a cabeça quebrada.

E agora? Como chegar em casa?

As tias cheias de dengo com os rapazes iam desmaiar!

Chegaram na maior cara de pau! O esculacho foi geral! Só faltaram carregar o Lúcio no colo. O ferimento foi superficial e acabou tudo em harmonia.

Chegou o dia da partida, os primos teriam que voltar.

Lembro-me que embarcaram num avião DC-3 e na nacele estava escrito TUPINIQUIM.

Lysis queria me trazer, porém mamãe não deixou.

Foi um momento triste vê-los partirem.

Mais tarde, no Rio Lysis me deu a honra de ser padrinho de sua filha Márcia. Fomos amigos até pouco tempo quando nos deixou!

25/07/2024

Pedro Parente













OS BARROSO.

 

Oriundo de Lisboa, meu avô de quem herdei o nome Hilário Pedro, migrou com sua família para o Brasil trazendo muito dinheiro que comprou do governo brasileiro glebas imensas de terras no Alto Guamá.

Membro da família do Almirante Barroso, herói da batalha do Riachuelo, impunha respeito naquelas bandas pouco habitadas tendo adquirido o título de Cel. Da Guarda Nacional tornando-se responsável pela segurança da área adquirida.

Construiu uma grande fazenda e lhe pôs o nome de Canta Galo. Explorava o extrativismo de cacau, madeira e várias outras riquezas da mata.

Logo Canta Galo virou um grande entreposto de compra e venda de produtos. Alí Os colonos eram abastecidos de gêneros vindos da cidade de Belém, açúcar, café e principalmente querosene que abastecia as lamparinas e candeeiros, pois não havia eletricidade. Anos depois criaram uma geladeira que funcionava com querosene e chamava-se Gelomatic.

Foi um sucesso!

Casou-se com minha avó uma brasileira de Ourém-PA ou São Miguel do Guamá que trazia em suas veias o sangue índio. Segundo mamãe ele carregou sua esposa em seu colo quando nasceu. A diferença de idade entre os dois era de mais de vinte anos ao se casarem.

O homem era astuto!

No Largo da Sé em Belém construiu um sobrado de dois andares. Muito bonito. A frente do imóvel era para a praça e os fundos iam até a baia onde tinha um trapiche para descarregar os produtos vindos de sua fazenda através de sua lancha chamada Leopoldina, nome da minha mãe.

A parte de baixo era depósito de mercadorias, a cozinha, o dormitório das mucamas, arrumadeiras, passadeiras e cozinheiras.

A parte de cima, um luxo!

Dormitório da família e um lindo salão de festas. Mobiliário refinado para receber os convidados para grandes festas proporcionadas pelo vô Hilário que já tinha uma grande reputação entre os políticos e autoridades eclesiásticas.

Essa obra de arte durou até a ditadura. Foi requisitada pelo Exército juntamente com o restante do casario colonial daquela época. 

Tudo demolido e transformado em área de lazer.

O sobrado do meu avô é o primeiro da foto. Era um primor seu interior.

 

 

Ali foi a raiz dos Barroso da minha geração. Não tenho muitas informações que gostaria muito de possuir, pois quando vim ao mundo o vô já tinha falecido.

O casal produziu uma prole de sete filhos, dois homens e cinco mulheres.

Um deles formou-se em piloto de Longo Curso da Marinha Mercante e veio para o sul comandando o navio Santos. Trouxe consigo uma de suas irmãs, a Emília para cuidar de sua casa enquanto estivesse em alto-mar. Casou-se com tia Lilasia. Teve dois filhos Lysis e Lúcio.

Tio Antônio tinha o apelido de Beba. Comprou um terreno em Ipanema e foi criticado pelos colegas porque ali só existia areia. Ninguém pensava que aquele bairro seria o que é hoje. Construiu um belo bangalô com quintal na rua Barão da Torre no Rio de Janeiro.

Após sua morte o imóvel foi vendido e com o produto foram comprados dois apartamentos e uma casa todos na zona sul que abrigaram tia Lilásia, Lysis e Lúcio.

Tia Lilásia passando certa dificuldade internou os primos no colégio salesiano de São João del-Rei,

A família ficou separada. Tínhamos curiosidade de conhecer os primos.

Em 1951 Lysis e Lúcio finalmente chegaram e ficaram hospedados no sobrado do Largo da Sé na casa da Dindinha (Tia Maria).

Recebidos com alegria foram brindados com uma grande mesa repleta de iguarias do Pará. A noite uma bela festa nos salões encantados do sobrado.

São histórias que dariam para publicar uma enciclopédia, porem me detenho na chegada dos primos por ter sido um momento que marcou minha feliz infância.

Os primos se entrosaram rapidamente com a gente, meus irmãos mais velhos tinham a mesma idade.

Adoraram os banhos de igarapés e finalmente chegamos até nossa casa na ilha de Mosqueiro.

 

Na Praia Grande de frente para a Ilha de Marajó separadas pela baia de Santo Antônio. A distância é tão grande que de uma ilha não se avista a outra.

Casa fresca avarandada toda de madeira sombreada de mangueiras onde passávamos as férias.

Na praia em frente a casa correu logo a notícias de visitantes do Rio de Janeiro, fato raro pois Belém era ligada ao sul somente por navio ou avião, não havia estada.

Lúcio com habilidade deslizava de peito sobre a marola que quebrara na areia. Foi até aplaudido pelos banhistas. Lysis se fartava com as comidas principalmente a maniçoba.

Havia um lugar para dançar e pra lá foram todos os rapazes tomar umas e dançar com as moças. Os nativos enciumados procuraram encrenca com nossos cariocas e o pau quebrou.

Brigaram todos, mas o prejudicado foi o Lúcio com a cabeça quebrada.

E agora? Como chegar em casa?

As tias cheias de dengo com os rapazes iam desmaiar!

Chegaram na maior cara de pau! O esculacho foi geral! Só faltaram carregar o Lúcio no colo. O ferimento foi superficial e acabou tudo em harmonia.

Chegou o dia da partida, os primos teriam que voltar.

Lembro-me que embarcaram num avião DC-3 e na nacele estava escrito TUPINIQUIM.

Lysis queria me trazer, porém mamãe não deixou.

Foi um momento triste vê-los partirem.

Mais tarde, no Rio Lysis me deu a honra de ser padrinho de sua filha Márcia. Fomos amigos até pouco tempo quando nos deixou!

25/07/2024

Pedro Parente

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





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