terça-feira, 30 de julho de 2024

ESTILOSO

 ESTILOSO

Nas minhas andanças pela vida, abençoado destino que me empurrou para o Rio de Janeiro onde pude fazer meu curso de “malandragem” frequentando lugares de samba e boemia. Seria impossível fazê-lo, sem um emprego decente.

Naquela época ainda se usava “terno” de tecido que se entregava ao alfaiate e com a fita métrica tirava suas medidas, ombro, cintura, comprimento das pernas e braços. Não existiam ternos prontos eram todos feitos usando as medidas de cada cidadão. O tecido era escolhido pelo freguês que normalmente já chegava com o pano nas mãos. Alguns alfaiates tinham um pequeno estoque para atender aqueles indecisos.

Haviam tecidos sofisticados como o Tropical Inglês, Palha de Seda Italiana, Linho Irlandês, Casimira e outros tantos...

Numa viagem que fiz à Belém a fim de visitar minha família, meu pai me deu de presente um “corte” (medida certa para um terno) de Tropical Inglês risca de giz ganho de um amigo.

Quando voltei me apressei em mandar fazer um terno com aquele tecido chique.

Eu morava na Ataulfo de Paiva 50-B2 no Edifício dos Jornalistas. Meu vizinho do andar de baixo era um exímio alfaiate e sua fama era de fazer os ternos do Presidente JK. 

Recorri a ele. 

Prontificou-se a fazê-lo e no dia marcado entregou-me a joia, uma verdadeira joia. Estilo moderno, jovem que me fez sentir um magnata.

Nessa época eu trabalhava numa Agência do Banco Irmãos Guimarães no centro do Rio na esquina de rua Gonçalves Dias e Sete de Setembro, próximo à Confeitaria Colombo onde “Os Velhos na Porta da Colombo” da famosa marchinha daqueles carnavais, desfilavam seus valorosos ternos.

Fui até a Colombo comer o salgadinho mais barato, o dinheiro não dava para pedir dois, teria que ser só um, mesmo!

Passei pelos velhinhos, alguns me olharam de soslaio, mas percebi alguns de nariz torcido fingindo indiferença.

Pois bem na Agência éramos todos colegas, mas acima de tudo amigos. Relacionamento fantástico e quanta saudade sinto deles.

O chefe das Contas-correntes chamava-se Normando quando me viu entrar pra “pegar no trampo” de terno de Tropical Inglês risca de giz e o jornal debaixo do braço, exclamou:

- Gente! Atenção que chegou o Dr. Geraldinho (referindo-se ao Diretor do Banco) por causa da minha roupa.,

Nesse dia fui aclamado por palmas e gargalhadas dos meus saudosos amigos.

Entre os companheiros, daquele dia em diante passei a ser chamado de Geraldinho!

Vida que segue!

Pedro Parente

30/07/2024




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