quinta-feira, 5 de junho de 2014

O VELEIRO
Lá pelos idos de 1975, meu sogro comprou um terreno às margens da Represa de Camargo. Adorei a idéia, pois nascido e criado nas águas turvas dos rios que banham Belém e Mosqueiro, sentia muita falta, nas montanhas de Minas, de um lugar onde pudesse praticar meus esportes aquáticos. Optei pela vela.
Liguei para meu bom amigo Carlos, no Rio. O amigo mais antigo, até hoje, que deixei por lá quando ali morei por alegres dez anos. Fizemos uma boa dupla a tal ponto que namorávamos duas irmãs. Era dos “Anos Dourados”. O Rio de Janeiro exalava romance. Os casais ainda dançavam abraçados e quando se amavam bailavam “de rosto colado”. Isto significava comprometimento.
Fomos até uma loja especializada em barcos na Rua da Passagem em Botafogo e lá encontramos um barco de fibra com vela de nylon para duas pessoas. Lindo! Casco laranja, acabamento branco e a vela com faixas largas em diagonal, laranja e branco. Colocamos em cima da minha Brasília que possuía um suporte para carga, porém o barco excedia um pouco o tamanho do carro. Pelas leis do trânsito isso é proibido. Teria que ser sinalizado com um pano vermelho. Resolvi assumir o risco e zarpei pegando a estrada.
Na primeira “barreira” policial, fui intimado a parar. O policial alertou-me que não poderia prosseguir sem sinalizar o excesso da carga com um pano vermelho.
Problema! Onde vou comprar um pano vermelho? Lembrei-me de uma cueca escarlate que estava na minha maleta. Naquela época usava, pois eu não era nenhuma odalisca deslumbrada. Abri a mala e dependurei a cueca na popa do barco. O policial que a tudo assistia com olhar inquisidor, perguntou: - O que é isto? Respondi-lhe: cueca!
Botou a mão no queixo, examinou com cautela, até fez menção de apalpá-la, mas desistiu, pois não sabia se tinha sido usada.
Aí decidiu com firmeza:
- Cueca pode, devolvendo meus documentos, despediu-se:
- Boa viagem!
Pedro Parente
1º/06/2014

Nenhum comentário: