segunda-feira, 15 de abril de 2024

REGATA

 REGATA

No final da década de 50, Belém vivia tempos românticos embalada por canções inesquecíveis e com resquícios de cidade europeia.

O cais do porto, havia sido construído por empresa inglesa de capital privado e com direito à exploração do mesmo sob nome de “Port of Pará”. 

Com essa expansão vieram algumas modernidades entre elas novos navios vindos de vários países, pois nossa indústria naval de grande calado, praticamente não existia. 

Nessa leva vieram dos Estados Unidos grandes barcaças de dois andares movidas por rodas d’água instaladas na popa que foram protagonistas de muitos filmes feitos no rio Mississipi chegadas por lá em 1850.

Eram de baixo calado e por isso mesmo não corriam risco de encalharem nos rios amazônicos de baixa profundidade.

Quando chegaram, o brasileiro não perde o censo de humor, às apelidaram de “chatas” pois não tinham quilha, o fundo delas era liso.

As regatas de barcos a remo, esporte trazido, também pelos ingleses e absorvidos pelos brasileiros, ali em Belém, as datas para competições eram combinadas de acordo com a lua e a força da maré que deveria começar a encher pela manhã por volta das nove horas.

Pois bem, cada clube alugava sua “chata” a enfeitava toda, distribuía os convites. No dia marcado elas ancoravam próximo a raia da competição e começava a festa. 

Bebidas a vontade, as pessoas muito bem vestidas bailavam ao som da orquestra de baile que dava o chame do acontecimento. Quando os páreos estavam correndo, faziam soar seus apitos a vapor dando impulso aos atletas. Uma festa!

Numa dessas regatas nossa guarnição composta de quatro remadores e um timoneiro, disputava um troféu havia dezenove anos e seria posse definitiva para o meu clube do Remo no caso de vitória.

Meu pai conseguiu tirar minha mãe de casa e a levou em seu barco para assistir minha participação visto que ele fora atleta emérito do Remo.

Nossa guarnição estava na “ponta dos cascos”, porém, eu iria correr pela primeira vez na voga, posição do remador que dá ritmo às remadas na embarcação além do mais com o remo de bombordo ao qual não tinha hábito. Conclusão: inexperiente.

Demos a largada e eu entrei num ritmo que não era o nosso, tentando deixar as reservas físicas para a chegada.

Quando percebi não tinha ninguém atrás de nós, estávamos fechando a raia. Acelerei o ritmo, ultrapassamos alguns, mas não deu para chegarmos em primeiro lugar.

Foi a maior desilusão da minha vida! Após 62 anos ainda sonho com isso até hoje. Chorei no rebocador até chegar o páreo seguinte.

Fomos correr contra as mesmas guarnições adversárias e mais uma representando Manaus.

Demos a largada no ritmo ao qual estávamos acostumados. Chegamos em primeiro lugar deixando o segundo colocado havia uma distância de cinquenta metros.

O esporte é uma escola. Nos ensina a perder também.

Pela vida afora, acumulei várias derrotas e parcas vitórias, mas não perdi a cabeça! 

Aprendi muito!

14/01/2021

Pedro Parente







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