terça-feira, 28 de junho de 2022

 CASA GRANDE

Lá para as bandas do Rio Guamá no Pará, meu avô português de Lisboa adquiriu um enorme latifúndio de milhares de hectares de terras tornando-se Coronel da Guarda Nacional. Esse título pomposo era honorífico e pessoas possuidoras de grandes propriedades tinham o direito de compra-lo com um detalhe tornavam-se responsáveis pela segurança daquele local.
O tempo passou, meu avô faleceu e coube a meu pai administrar aquele mundo de terra.
Impossível, pois eram mais de 30.000ha. de floresta, rios e igarapés.
Havia a Casa Grande que tomou o nome de Canta Galo.
Feita sobre esteios de acapu, madeira de lei resistente à água, toda rústica sem qualquer luxo, porém, muito confortável com a cumieira alta e muito ventilada para amenizar o intenso calor tropical. Possuía um trapiche longo que adentrava o rio onde atracavam as embarcações. No meio do terreiro ainda resistia um objeto feito de um grosso esteio de madeira que servia para amarrar e surrar escravos rebeldes.
Minha mãe jurava que nunca meu avô mandou amarrar alguém àquele horroroso objeto de tortura.
Como criança, o que mais me chamava atenção era o tendal de grande utilidade naquela região onde chove diariamente.
O tendal servia para proteger o cacau que secava ao sol, das chuvas repentinas. Tratava-se de uma choupana de sapé bem baixinha sobre rodas.
Quando caia a chuva, os homens corriam e empurravam a casinha sobre uns trilhos de madeira, cobrindo os grãos de cacaus que secavam.
Guardo na mente imagens e fatos inesquecíveis daquele tempo de menino.
Morávamos em Belém. Meu pai tinha um barco a motor e uma canoa a vela para transportar a produção dos colonos para a feira. Em algumas dessas viagens ele me levava.
Eram seis horas de viagem rio acima correndo a favor da correnteza que muda de direção de seis em seis horas.
Tenho guardado na minha retina uma imagem que jamais esquecerei.
O sol escondeu a noite clara tomou conta do rio manso.
Aos poucos foi surgindo por trás da mata uma enorme lua cheia refletindo sua claridade no espelho do rio.
Dava pra se ver os botos tucuxi com sua velocidade espantosa se exibindo em bando bem próximo ao talha-mar da proa do barco.
Fiquei extasiado!
27/07/2022
Pedro Parente
Valéria Assis Coelho, Cid Lima e outras 40 pessoas
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