sexta-feira, 10 de março de 2023

CASAMENTO DO ARTHUR

 CASAMENTO DO ARTHUR

Vivíamos tempos felizes em João del-Rei e nos encontrávamos na esquina do Kibon. Era o ponto da muvuca. Todos gozando uns aos outros, sem confusão.

A turma era eclética e não havia distinção de gênero, nem de cor e muito menos de situação financeira. Os que tinham boa situação, pagavam para os que não tinham, semc fazer perguntas e sem humilhação.

Normalmente, quando estávamos com os bolsos recheados com o pagamento do mês e amigos endinheirados, por entre enormes 

queijos dependurados do teto, sentávamos na Cantina Calabresa, de uma simpática e laboriosa família italiana.

Já tínhamos nossa mesa reservada. A famosa “mesa zero” onde eram servidas as delícias daquela terra acompanhadas de bons vinhos Chianti.

Chamava-se mesa zero porque certo dia o Judas estava sentado em uma das mesas e eu na outra. Um de nós fez um pedido. Quando o Brás trouxe perguntou onde seria marcada a “comanda”?

Os números eram colados na parede em um pedaço de papel. Cada número em um papelzinho. No caso era mesa 10, porém o número um havia caído.

Judas, sem pestanejar mandou debitar na mesa ZERO, pois foi o número que sobrou.

Estava batizada a mesa “ZERO”.

Ali discutia-se tudo, desde politica e, principalmente samba. As vezes uns exaltados, depunham até presidente de países amigos!

Nesse clima, vivíamos a gargalhar, irresponsável e alegremente. Arthur com seus “causos” contribuía para o humor da mesa. 

O tempo inexorável foi passando até que certo dia Arthur conquistou uma namorada. Ela, também passou a ter seu lugar na nossa mesa. 

Com todo respeito!

Daquela convivência, surgiu a ideia de promovermos o casamento do Arthur.

O consultamos e ele gostou da ideia, pois não se conformava em morrer e deixar sua pensão do INSS para ninguém. Nesse caso ficaria para a viúva.

Sua aposentadoria foi conseguida à conselho de autoridades que nos premiavam com sua presença e a contribuição dos nossos parceiros de boemia.

Foi aberta uma poupança na Caixa em seu nome. Todos contribuintes tinham direito à festa no salão adjacente à Cantina.

Luiz e irmãs, filhos do seu Ítalo entraram com os pratos salgados. A bebida seria paga pelos consumidores.

Não assisti a cerimonia religiosa pois estava envolvido com a festa que foi um sucesso inesperado

Lotou o salão!

Dezenas de autoridades, comerciantes, industriais, juízes, generais e outros boêmios.

Festa de arromba!

O chope correu solto! Nenhuma confusão!

A poupança rendeu uma grana substancial. Anos passaram e ela ainda estava intacta. 

A quem pensava que ele era perdulário, enganou-se, era um tremendo “mão de vaca”.

O tempo passou, sem ter onde morar com sua esposa, recolhi o casal na minha casa.

No final de sua vida, internado em um hospital no Rio, já doente divertia todo mundo na enfermaria. 

Antes de morrer disse ao médico que o atendia:

- Dr na vida já fui tudo, menos puto e ladrão!

Saudades do bom amigo que a perversa morte levou!

10/03/2023

Pedro Parente






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