terça-feira, 11 de abril de 2023

BRASIL GIGANTE

 BRASIL GIGANTE! 

Anos setenta, fui visitar minha terra, a querida Belém.

Morando em Minas Gerais teria que percorrer 3.000 km. Escolhi o “caminho de dentro” como chamávamos a opção de sul a norte pela Brasília/Belém.

Viagem longa, porém, naquela época de “vacas gordas”, meu carro era um Ford – Landau cinza e teto vinil. Não lembro o ano, talvez 76, desta forma a viagem não se tornava cansativa, embora a monotonia das retas infindáveis daquela rodovia.

Após um mês em Belém, peguei um inverno tropical muito chuvoso, deu apenas para saborear a culinária deliciosa que me enchia a boca de água, porém a praia ficou sacrificada. Não que a chuva incomodasse, pois lá na linha do Equador até a chuva é morna.

Depois de me fartar de açaí, tacacá, tapiocas, pato no tucupi, ventrecha de filhote, cupuaçu, bacuri e outras delicias mais, decidi voltar pelo litoral. 

Peguei a Rodovia do Sol (BR 101) que vai do Maranhão ao RG do sul.

Ótima viagem de lindas paisagens. 

Eta! Brasil bonito!

Na medida que fui descendo nosso litoral, a paisagem foi modificando, deixando para trás aquele mundaréu de água por todos os lados, dando lugar para a seca causticante.

Quanto mais para o sul notava-se a seca mais severa. Até que cheguei ao sul da Bahia.

Ali meu coração apertou. 

Meninos espertos cobriam de terra os buracos no asfalto, que eram muitos, na expectativa de algumas moedas que os caminhoneiros jogavam generosamente em retribuição pelo seu trabalho.

Mais adiante, uma velhinha com uma garrafa vazia na mão.

- Moço não quero dinheiro quero água!

Atendi seu pedido e segui em frente envolto nas minhas reflexões.

Logo adiante, uma cena inesquecível. 

Um casal, parecia irmãos. Pequeninos, pés descalços, sem blusas apenas um calção roto e sujo. Manchados pela poeira e com os narizes escorrendo, marcavam suas faces com rastro das lágrimas escorridas de seus olhos tristes.

Voltei. Não me contive. Aquelas expressões atormentam meus pensamentos até hoje.

Entre lágrimas, dei-lhes meus refrigerantes e sanduiches que levava num isopor. 

Surpresos, não sabiam o que fazer. Saíram correndo pra dentro do mato ralo, talvez levando aqueles alimentos para os que ficaram em casa famintos sem saber o que fazer e sem ter para onde ir.

Este é o nosso Brasil gigante que leva em sua bandeira essa pecha da fome e da miséria de seus filhos que não pediram para nascer.

Um dia tudo acaba levando o sofrimento embora!

11/04/2023.

Pedro Parente



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