CAUSO DO IVO
Morávamos num prédio de doze andares no Centro de São João del-Rei, no térreo havia uma cantina italiana, Cantina Calabresa. Seu proprietário era um simpático casal Ítalo e Lina oriundos da cidade de Paola/Cosenza. Trouxeram consigo, além do fino trato no atendimento de seus clientes, a arte da gastronomia daquele lugar.
Irresistível atender ao chamado do Ítalo para provar seu tira-gosto antes do almoço.
Quantas vezes mudei de rumo! Vinha pelo outro lado da calçada com intenção de subir sem parar para o “antepasto”, porém o Ítalo dominava o movimento da rua com perfeição de quem fora “carabineri” durante a guerra.
Do outro lado da rua ouvia seu convite com a voz inconfundível de tenor, já com um pedacinho do delicioso pernil fresquinho:
= Pietrino veni qui!
Naquela hora, minha boa intenção desaparecia dando lugar aos sorrisos e abraços dos amigos que ali estavam. Sem delongas pedia “umazinha” guardada debaixo do balcão e continuava a prosa.
O restaurante tornou-se um sucesso e as famílias aos domingos, reuniam-se em torno de uma bela macarronada, canelone e outras delícias romanas.
Aproveitando a onda de sucesso e atendendo a solicitação da freguesia, passaram a fabricar massa e vende-la no varejo pré-cozida.
Meu grande amigo Ivo Nohra, assíduo confrade. Professor de desenho industrial, mas a arte que mais eu admirava era seu jeito único de contar “causos”. Ninguém ficava sério perto dele.
Contou-me que, certo domingo, sozinho em casa, resolveu fazer uma macarronada a seu modo.
Na Cantina, comprou meio quilo de talharim, massa fresca pré-cozida e levou pra cozinhar, pois morava no décimo segundo andar.
Desceu de elevador e foi tomar mais uma enquanto a massa cozinhava.
Bateu-lhe a curiosidade e perguntou à Carmelina:
-Quanto tempo leva pra cozinhar a massa?
- Dez minutos!
Ficou decepcionado, pois havia deixado o macarrão cozinhando na panela de pressão!
Esse era o Ivo! Impagável!
Muita saudade!
19/05/2023
Pedro Parente
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