O
LOTAÇÃO
Naqueles tempos quando
o Rio ainda não tinha tanta gente, o Leblon era uma aldeia. Todos se conheciam
pelo nome e não pelo CPF.
A vida passava
lentamente. Sem pressa e com muito glamour.
Nossa turma do Edifício
dos Jornalistas, no Jardim de Alah era muito grande e se reunia todas as
noites, madrugada a dentro, alguns, até o raiar do dia. A alegria era
contagiante.
Sem ter o que fazer
para matar o tempo, alguns ficavam imaginando que tipo de molecagem se faria àquela
hora.
Do transporte urbano
participavam os terríveis Lotações como eram conhecidos por sua peculiaridade.
Eram micro-ônibus com apenas vinte lugares e com uma porta só. Seus condutores
eram pagos por comissão. Quando completava o número de passageiros (lotação)
fechava-se a porta e se ninguém tocasse a campainha para descer, só parava no
ponto final da linha.
O último lotação
passava à meia noite e levava o apelido de Cristo. Depois só às cinco da manhã.
Maneco bem dotado
fisicamente parecia uma estátua de ébano esculpida por Da Vinci, de sorriso
fácil era a simpatia personificada. Deu a ideia.
A linha Leblon/Estrada
de Ferro tinha duas opções via Lagoa ou via Copacabana. A ideia era a turma se
colocar no ponto e encher o lotação. O último a entrar perguntava ao motorista:
- Passa na Lagoa? O
motorista responderia não este é Copacabana.
Aí descia todo mundo.
E assim foi feito.
Lá vem o lotação
vagarosamente com motorista sonolento atento pra ver se “pescava” algum
passageiro.
A turma atravessou a
rua e se colocou no ponto. Quando o motorista viu aquela quantidade e
passageiros apressou-se em parar no ponto já com a porta aberta, largo sorriso
e um cortês “bom dia”.
A turma foi entrando
lentamente e sentando em seus lugares. Coube ao Maneco fazer a pergunta. Foi um
erro estratégico, pois o Maneco ria até de enterro. Entre gargalhada ainda
perguntou:
- Passa na Lagoa?
Não aguentou de tanto
rir e pulou fora do estribo do ônibus, sacaneando com a turma que estava lá
dentro sentada.
O motorista percebeu
que se tratava de molecagem, fechou a porta e pisou fundo no acelerador. A
turma em polvorosa queria descer, mas não teve jeito. O homem só parou no final
da Rua Visconde de Pirajá atendendo ao sinal de um cidadão que estava
aguardando no ponto.
Desceram todos com cara
de cachorro que cai do caminhão de mudança e se puseram andar alguns quilômetros
até o Jornalista.
Maneco sumiu e mais uma
madrugada entrou para história.
11/01/2019
Pedro Parente.
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