ROTINA
BOÊMIA
TURMA
DO JORNALISTA – Assim era conhecida a turma da qual eu participava quando
morava no Rio de Janeiro, Leblon.
A
turma era enorme e passava a noite conversando fiado debaixo da janela do Vasco
um cidadão amigo a quem eu admirava. Jornalista trabalhava de noite numa
Agência de Notícias, me parece a United Press, assim sendo chegava muito tarde,
já com os alvores do dia. Diziam que além de sair tarde do trabalho ainda dava
uma esticada no carteado. Claro que esse detalhe a patroa desconhecia. Quando o
aglomerado era grande a conversa subia o tom atrapalhando o sono do nosso bom
amigo que chegava à janela e com cortesia pedia que a turma conversasse mais
baixo. No que era prontamente atendido.
Detalhe:
esse cidadão chamava-se Raimundo Vasco, mas pelo amor de Deus, nunca o chamasse
pelo seu primeiro nome. O xingamento com palavrão vinha na hora.
-
Meu nome é Vasco!
Nesse
clima de harmonia a vida passava feliz, boêmia, romântica e sensual. O Rio era glamoroso
na época dos Anos Dourados.
A
vida da rapaziada era difícil. Não existia policiamento intelectual nem o tal
assédio sexual. Namorava-se respeitosamente e se o cidadão tentasse ser mais
ousado levando a mão aonde não devia, corria o risco de levar uma tapa e no dia
seguinte seu nome ser tachado como tarado. Não conseguia mais ninguém.
Dessa
maneira o ritual era um cineminha, beijinhos, abraços e 22 horas deixava-se a
moça em casa. Nessas alturas quem levava vantagem eram as domésticas, pois era
a hora que acabavam de arrumar tudo nas casas e após um bom banho, todas
cheirosas descerem para a paquera. Aí os moços iam deitar-se na areia da praia
e “apreciar o luar”.
Na
avenida beira-mar tinham umas profissionais que faziam ponto por ali. Eu,
Maurício Arruda e mais um, nos tornamos amigos delas. Dinheiro curto, tanto
nosso quanto delas, em algumas noites comprávamos numa lojinha do posto de
gasolina, um litro de rum, Coca-Cola e mortadela. No banco da praia fazíamos
nossa farra.
A
ronda noturna na praia era feita por policiais à cavalo. Já éramos conhecidos e
algumas vezes algum deles filava nosso rum. Tudo civilizadamente como manda o
bom costume.
Certa
noite substituíram a dupla de cavaleiros e em seu lugar colocaram dois novatos desconhecidos.
Nosso amigo que descontraidamente namorava próximo à água, foi surpreendido por
eles que o enquadraram em “atentado ao pudor”.
Deu-nos
trabalho para provar que nariz de porco não é tomada!
07/01/2019
Pedro Parente
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