ALDEIA DO LEBLON
Edifício dos
Jornalistas – Naquele tempo, o Bairro do Leblon no Rio de Janeiro, era uma
pacata e bucólica aldeia. Lá por volta de 1956 o IAPC – Instituto de
Aposentadoria e Pensão dos Comerciários resolveu construir três edifícios para
vender a seus associados, privilegiando a categoria dos jornalistas. Daí seu
nome. São três prédios de doze andares com dois blocos cada um. Uma construção tão
imponente que servia como orientação aos navios que adentravam a barra do Rio
de Janeiro.
Depois de ocupados,
devido ao grande número de apartamentos, formou-se uma nova comunidade formada
por pessoas vindas de bairros aleatórios de todos os recantos do Rio trazendo
consigo um grande número de jovens adolescentes.
Sem ninguém determinar
nada, aquela rapaziada escolheu um ponto para o bate-papo, em frente ao
primeiro prédio.
A turma não era pequena
e logo surgiram as lideranças pela espiritualidade e genialidade de alguns que possuíam
o dom do bom humor.
Eram vários, mas tenho
na memória um em especial. Acho que não dormia porque ficava matutando qual
seria a pegadinha do dia seguinte. Por sua semelhança fisionômica com “O Corvo”
apelidaram-no de “Lacerda”. Esse cara era genial!
Num desses dias
resolvemos ir à praia do Arpoador já famosa pela frequência de celebridades e o
mais importante, já usavam “maiô de duas peças”.
Na volta, entramos na Rua
do Bar 20. Naquele ponto havia uma manobra nos trilhos do bonde para que
retornassem como determinava sua linha.
Pois bem, era comum o
motorneiro, aquele que dirigia o bonde, saltar e ir até o boteco fazer um
lanche ou tomar um cafezinho. Tirava o manete que acelerava o bonde, colocava
em seu bolso e desligava a lança, peça que faz o contato com a rede elétrica, puxando
uma corda amarrada na traseira.
Esses cidadãos
trabalhavam uniformizados inclusive de quepe parecendo até um guarda civil. A
firma era inglesa. Não precisa falar mais nada.
Naquele dia, o
motorneiro era meio displicente e deixou tudo ligado. Foi fazer seu lanche sossegado
exatamente na hora em que a turma chegava.
Sorrateiramente um dos
nossos assumiu o comando do bonde. Todos pularam dentro e o piloto improvisado
acelerou. O trilho já estava na posição para voltar e assim foi.
O pobre do motorneiro
quando viu a cena, desesperado, largou tudo e saiu disparado atrás do bonde. O
quepe foi o primeiro que caiu da sua cabeça em seguida para alegria da
molecada, moedas em profusão voaram dos bolsos do seu dólmã.
Nosso heroico motorneiro
parou o bonde em frente ao Edifício dos Jornalistas e desaparecemos entre as
colunas com o coração saindo pela boca.
Haja adrenalina!
Pedro Parente
05/01/2019
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