sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

TRABALHO BRAÇAL

 

 

TRABALHO BRAÇAL

Na década de 70 durante a época do “Milagre Brasileiro”, o Governo Federal do alto da sua incompetência e corrupção, criou a Ferrovia do Aço – a obra dos mil dias.

Seu traçado passava próximo a São João del-Rei, tornando-se assim uma excelente cidade como ponto de apoio para engenheiros e funcionários da administração das empreiteiras executoras da obra.

A cidade foi invadida. Os aluguéis de casas e apartamentos dispararam. Todos lucraram, como o comércio em geral e proprietários de imóveis. Os bares, a noite, ficavam lotados.

Dentre os vários engenheiros com quem convivi, um deles, contou-me que sua empreiteira pegou uma obra no Iraque, lá no meio daquele deserto insólito.

Para trabalhar naquelas condições inóspitas, era comum buscarem mão de obra barata e que suportasse o calor do deserto, então iam ao interior do nordeste onde a seca sacrificava seus habitantes que pediam socorro e os recrutavam.

Certa feita, numa dessas empreitadas, dois amigos, dando graças pelas vagas, aceitaram o serviço. Se despediram e foram para o aeroporto.

Muito desconfiados entraram no avião, sentando-se um ao lado do outro.

Seu contrato de trabalho era para fazer massa, isto é, misturar o cimento, areia e brita. Um serviço braçal extenuante.

Depois de muito voar atravessando o Atlântico, o avião se preparou para aterrissar sobrevoando o campo de pouso no meio do deserto com imensas dunas.

Os dois, olhando pela janela e vendo aquelas montanhas de areia, um deles falou naquele sotaque carregado do sertanejo:

- SEVERINO! QUANDO CHEGÁ O CEMENTO NÓIS TÁ   FERRADO!

03/02/2023

Pedro Parente



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