quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

BAIRRO DA VILA

 BAIRRO DA VILA

O bairro principal da ilha de Mosqueiro, chama-se Vila que concentra o comércio onde todos vão buscar mantimentos para o suprimento de suas casas, por não ter geladeiras para conservar perecíveis, as compras teriam que ser diárias. Por isso aquele local era a parte mais movimentada da cidade, antes do almoço.

Dois amigos Rauland e Mansur sonorizaram a praça usando cornetas alto-falantes fixadas nos postes da “rede elétrica”. Não se perdia nenhuma música gerada em um estúdio precário no quiosque da prefeitura. Muito trabalhoso, pois tudo era feito manualmente. Acabava um LP que hoje chamam “bolachão”, entrava a voz impostada de um dos sócios fazendo reclame do patrocinador. Era época dos “Anos Dourados” e as músicas muito românticas, algumas vindas de Cuba e do Caribe, criavam um clima propício ao namoro e as paixões arrebatadoras dos jovens corações adolescentes.

Havia um salão de danças, comum à época, chamado Praia Bar. Ali os dançarinos exibiam seus passos requintados com suas hábeis damas. Quem não soubesse dançar somente assistia com inveja. Nesse ofício era exigido muita destreza.

É comum nesses arrabaldes seus tipos inesquecíveis. Cada qual com sua peculiaridade; fazia parte desse grupo a Paula. Uma mulher generosa. Ela acolhia aqueles boêmios que prolongavam a esbórnia. Os acolhia em sua casa servindo a eles uma sopa substancial, acompanhada pela “marvada pinga” Com eles amanhecia o dia participando ativamente das conversas. Por ter se prostituido cedo possuía grande experiência no trato com a turma. Não fazia distinção com ninguém e não havia abuso. Todos a respeitavam e acarinhavam. 

Ali havia uma figura muito querida com o apelido de Manteiga. Na época das férias mudava-se de sua casa em Belém para a casa da Paula em Mosqueiro. Trazia a roupa do corpo, a rede e um calção de banho que não tirava durante o tempo que estivesse por ali como hóspede.

Meu amigo Napoleão, companheiro de juventude e que passava as férias conosco, lembrou da “Sopa do Padre Serra”. De padre não tinha nada, a não ser o nome, talvez porque recuperasse o estado normal daqueles que erravam a mão na pinga durante a madrugada.

Cinco da manhã íamos deixar o papai na Vila para pegar o navio que o levava a Belém para trabalhar. Quando voltávamos a pé para casa teríamos que levar temperos e peixes para o almoço, porém antes, uma generosa sopa no Pe. Serra. Não podíamos esquecer de levar o pão para a mamãe.

Após o café da manhã sob austera administração da mamãe, maré cheia, água fresca e uma boa pelada na areia. 

Depois, lauto almoço. Normalmente peixe fresco e de sobremesa um bom açaí. 

Uma boa sesta numa rede na varanda recebendo a brisa fresca vinda das bandas do Marajó.

Não percebia que a vida passava e a felicidade não é perene.

13/12/2023

Pedro Parente


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