segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

VILA DE MOSQUEIRO

 

VILA DE MOSQUEIRO

No dicionário Mosqueiro significa local de muitas moscas, porem a origem do nome dado à ilha, onde passei parte da minha infância, está relacionado a Moquém, uma grelha de paus sobre o lume onde se assam ou secam peixes.

Os índios que ali habitavam  tinham o costume de se reunirem na praia, todos da tribo e promoviam uma imensa pescaria. O produto, normalmente, de bastante volume, contendo quantidade abundante de peixes de todas as espécies. Cabia às mulheres a tarefa de limparem as vísceras e brânquias do pescado. Sendo grande quantidade, a tribo teria que secar os peixes que abasteceriam a aldeia por algum tempo.

Na praia erguiam os moquéns promovendo a secagem. Até hoje por lá se usa o termo “peixe moqueado” que corresponde a “peixe defumado”.

Sendo uma ilha escolhida pela elite, tornou-se muito procurada por turistas que dali fizeram seu passeio de férias e finais de semana. Construíram seus adoráveis chalés de madeira em seus arborizados quintais, cada um mais bonito que o outro.

Por se tratar de ilha sua comunicação e abastecimento com o continente era feita por via marítima. Sua porta de entrada, um trapiche enorme baía adentro onde encostavam embarcações e, principalmente o navio a vapor que trazia moradores e veranistas.

Nas generosas férias escolares o movimento da ilha crescia demais, mantendo as devidas proporções. Ruas de terra, apenas um pequeno ônibus que fazia duas viagens, uma quando o navio chegava e outro quando ia embora.

Ali na frente junto ao trapiche todos chamavam o bairro de Vila, onde tinha o Mercado Municipal. Em frente várias barraquinhas onde as artesãs locais comerciavam seus deliciosos e singelos produtos culinários  como mingaus, tapioquinha, café e mil e uma quitandas

Na minha inocência, achava que ali era o céu!

A tarde tradicionalmente é a hora do tacacá. Um tipo de caldo quente de origem indígena consumido na cuia. Feita com goma de polvilho, tucupi que é o suco extraído da mandioca brava, jambú uma folha que deixa a boca meio anestesiada e camarão seco.

Uma delícia insuperável!

Num quiosque da Prefeitura Tia Raimunda servia em sua banca o tacacá mais famoso e saboroso por isso mesmo muito disputado. Tia Raimunda de seus quarenta anos e talvez cento e cinquenta quilos, sorriso franco, turbante na cabeça, querida de todos. Com todos esses predicados tornou-se conselheira espiritual dos jovens desencantados com seus efêmeros namoricos. Em volta de sua banca tinha sempre uma alegre roda de rapazes e moças alegres como um bando de maritacas.

Tempos felizes!

11/12/2023

Pedro Parente

 

 

 

 

 

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