quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

MOSQUEIRO

 MOSQUEIRO

Não sei em que século, a Amazônia na região norte do Brasil, houve uma ‘corrida em busca do tesouro”, no caso, tratava-se da borracha extraída de uma planta, a seringueira, nativa daquela região. 

Iniciava-se a explosão industrial com o Henry Ford, nos Estados Unidos, fabricando automóveis em série. Equipados com quatro pneus e um sobressalente aqueceu em demasia o consumo da borracha.

Logo chegaram os empresários, na maioria portugueses, para explorar aquele nicho de mercado. Adquiriram imensos latifúndios, empregaram ribeirinhos e nordestinos que fugiam da seca num regime de escravidão sujeito a todo tipo de intempéries e doenças tropicais como malária, febre terçã, impaludismo causando a morte de um exército de temerários. 

Os patrões logo multiplicaram seus lucros. Muitos cometendo exageros perdulários chegando a queimar dinheiro. Contam que para fazer bonito na presença de cortesãns acendiam charutos cubanos com uma cédula de quinhentos mil reis, a maior da época.

Junto com esse esbanjamento vieram boas novidades como a arquitetura de casas requintadas que algumas recebiam o nome de palácio. A cidade de Belém foi premiada com esse casario. Ainda existem alguns remanescentes de muito bom gosto. Distingue-se aqui o belo Teatro da Paz que abrigou a apresentação das maiores empresas de espetáculo daquele tempo.

Essas famílias abastadas devido ao calor tropical inclemente, gostavam de sair e usufruir de igarapés ou praias de areia. A moral era severa e os patriarcas não gostavam nem um pouco de expor suas mulheres e filhas ao olhar indiscreto de outros banhistas. Elegeram a Ilha de Mosqueiro sua predileta. Ali levaram a opulência de grandes chalés de madeira de lei com arte rebuscada nos detalhes do alpendre.

De colônia de pescadores aquele povoado passou a ser muito procurado por veranistas, tornando-se famoso. Apesar dessa frequência endinheirada até hoje não perdeu seu apodo de “Bucólica”. 

Sendo uma ilha seu acesso era somente via marítima. Tinha um navio ainda a vapor, que fazia o trajeto partindo de Belém. Chegava ao cair da noite em Mosqueiro e voltava de madrugada levando os trabalhadores.. 

Meu pai trabalhava para um banqueiro muito rico que veio de Portugal com sua família fugindo do “comunismo” que comia crianças. (hoje matam as crianças e não comem. A noite estão orando na sinagoga ou na Meca).

Nós éramos cinco irmãos. O terceiro foi atacado por uma moléstia chamada beribéri. A medicina era incipiente. Meus pais desesperados foram aconselhados pelo médico da família a leva-lo para Mosqueiro, pois o clima de lá talvez o salvasse.

Meu pai adquiriu um terreno na Praia Grande e lá construiu uma casa avarandada onde assistimos o milagre da recuperação de meu irmão Guilherme  

As férias escolares gozávamos as delícias daquela aldeia. Eu e meus irmãos passamos a fazer parte da família daquela gente humilde e hospitaleira. Eu era mais um entre eles.

Maré baixa era hora da pelada. Aproveitávamos que a areia ficava certinha. Fincávamos dois sarrafos marcando a trave e o pau quebrava. Os pescadores adultos participavam também. Não tinha nada de aliviar. Certo dia o Chinês errou a bola e acertou a canela do Adamor. Jogo interrompido. Canela quebrada. 

Naquela semana Adamor não pescou. Chinês foi no seu lugar com Crisóstomo e Chico buscar os peixes.

07/12/2023

Pedro Parente





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