“OSCAR JORNA 56”
Anos 60.
Nossa turma continuava “ativa e operante” jogando bola num campo improvisado dentro da área comum dos prédios, de vez em quando uma vidraça quebrada pela falta de perícia de algum dos atletas. Só acontecia nos apartamentos mais baixos pois faltava força para chegar ao 16° andar. Não havia discussão no dia seguinte o nosso Djalma já estava lá colocando outro vidro. As mães preferiam os filhos ali na pelada do que alçando voo em aventuras distantes.
A maioria dos competidores era estudante, como eu era operário não podia participar, pois nos finais de semana os times já estavam formados. Todos unidos, inflação de alegria, abraços e sorrisos.
Nesse clima vivia a maioria dos moradores. Os prédios muito cobiçados pela construção sólida e apartamentos amplos servidos por elevadores de alta qualidade. Por eles passaram inúmeras personalidades de poetas como Paulo Mendes Campos a jogadores de futebol como Newton Santos. Foi então que budou-se para o B1 um produtor cinematográfico chamado João, João de Deus (acho). Era amigo do nosso amigo Carlinhos Raposo, boa pinta, extrovertido, bom de pelada na areia onde fazia companhia para o Estradinha e outros do prédio.
O João (de Deus?) pediu ao Carlinhos que arrumasse alguns coadjuvantes para filmar uma cena de seu filme. O Carlinhos seria o ator principal.
Tudo combinado. O título do filme: JUVENTUDE TRANVIADA. Naquela época identificava os “bad boys”. A cena foi filmada na Sorveteria Kidy’s onde hoje é o Garden Bar.
Naquela época foi uma das primeiras sorveterias daquela área com balcão frigorífico. A noite transformava-se num bar soturno, pouca luz com lâmpadas fracas e ainda servia cachaça no balcão. Convite aos delinquentes e meliantes.
Na noite da filmagem a turma ficou alvoroçada e algumas famílias dos participantes também. Foram todos assistir a filmagem. Sob aplauso chegaram os atores.
Confusão de fios para os canhões de iluminação, o cinegrafista coitado com uma câmara jurássica tentava os melhores ângulos num sacrifício hercúleo.
Cena principal, Carlinho sentado a uma mesa de pés de ferro muito enferrujada, blusa aberta em desalinho, pernas esticadas numa posição totalmente relaxada. O detalhe era o cigarro no canto da boca e olhos semicerrados. Deu trabalho para deixar transparecer que fosse de maconha. Algum prático consumidor o fez com habilidade.
Lançamento no Cinema em tela Cinemascope. Plateia lotada na maioria por familiares dos atores inclusive os austeros pais do Carlinhos para prestigiar a desenvoltura de seu filho, apesar de não saberem qual era o enredo.
Passado uns dias, chega o Carlinhos ainda com algumas marcas da surra que levou dos pais por ter fumado maconha.
Carreira efêmera de um de um promissor ator cinematográfico.
05/04/2004
Pedro Parente