OUTONO
Quando adquiri o terreno onde hoje moro no arrabalde de São João del-Rei, tive que começar do zero, pois era de meia encosta tomado de capim “barba de bode”, isto é, sem valor.
Seu acesso por uma estradinha de terra, muitas vezes tive que pedir licença aos bezerros de um senhor de cabeça branca que os tocava carinhosamente para outro pasto.
Com auxílio de um trator removi o capim ficando só terra. Me dispus a plantar muitas árvores, pois sendo amazônico trago comigo a alma da floresta, a mansidão e a força daqueles rios que por lá serpenteiam.
Ainda moço não percebia que estava criando uma família. Cada árvore uma vida.
Hoje estou rodeado por elas e na minha idade provecta, aprendi a vê-las de outra maneira, chego a conversar com elas e ouvir suas respostas com a sensação de um generoso abraço.
Há décadas assisto o outono chegar e observar o comportamento das árvores. A sensação que tenho é de ficarem envergonhadas. Por perderem suas folhas ficam expostas e desnudas mostrando seus caules a olhares indiscretos.
Logo chegará a primavera e suas vestes serão recompostas. Aí exibem sua beleza presenteando-nos com flores de várias matizes e frutos saborosos.
Aliás recebi um presente.
Dizem que quem planta um ipê amarelo, raramente tem tempo de vê-lo florescer.
O ipê que plantei com a Neném nos presenteou com uma tímida florada.
A primeira!
09/08/2024
Pedro Parente
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