CURUPIRA OU ANHANGÁ
A fazenda do vô Hilário se situava à margem direita do alto rio Guamá na confluência com o igarapé Muraiteua encrustada na mata.
O casarão era iluminado por lamparinas e candieiros, nessas condições vivia-se aos modos dos ribeirinhos. A alimentação vinha do rio e da floresta.
Quem não conhece não faz ideia daquele modus vivendi. A cada passo um sobressalto, cobra, insetos peçonhentos e para piorar as entidades extra-sensoriais da mata.
No rio, a pororoca.
Como nós irmãos éramos frequentadores assíduos, ouvíamos os “causos” contados pelos colonos e trabalhadores da fazenda, já entravamos na floresta precavidos.
Certo dia dois irmãos gêmeos Álvaro e Edmar me fizeram companhia. Fiquei satisfeito e com menos medo de me perder na companhia daqueles dois machos fortes, só musculos, carregavam sacos de arroz de sessenta quilos diariamente, pensei:
-Tô feito!
Enganei-me totalmente!
Caminhávamos lentamente na mata há pouca distância.
Percebi que estávamos andando em círculos numa parte alagada e cheia de espinhos. Aprendi que aquilo era um sintoma de que estávamos “mundiados” quer dizer o curupira nos encantou.
Ouvi um grito de socorro vindo de meus valentes escudeiros. Corri na direção e encontrei-os abraçados chorando.
- Me tirem daqui!
Acalmei-os e mostrei como sair das garras do curupira.
Pega-se um cipó, tece uma rodinha e esconde a ponta. Pendura num galhinho e vai embora. O curupira que vem atrás pega a rodinha de cipó e fica procurando a ponta, aí dá tempo de sair do encantamento.
Não contei nada para ninguém na casa grande sobre a coragem dos gêmeos, os outros iriam pegar na pele deles.
Vida feliz!
17/08/2024
Pedro Parente
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