sábado, 17 de agosto de 2024

CURUPIRA OU ANHANGÁ

 CURUPIRA OU ANHANGÁ


A fazenda do vô Hilário se situava à margem direita do alto rio Guamá na confluência com o igarapé Muraiteua encrustada na mata.

O casarão era iluminado por lamparinas e candieiros, nessas condições vivia-se aos modos dos ribeirinhos. A alimentação vinha do rio e da floresta.

Quem não conhece não faz ideia daquele modus vivendi. A cada passo um sobressalto, cobra, insetos peçonhentos e para piorar as entidades extra-sensoriais da mata.

No rio, a pororoca.

Como nós irmãos éramos frequentadores assíduos, ouvíamos os “causos” contados pelos colonos e trabalhadores da fazenda, já entravamos na floresta precavidos.

Certo dia dois irmãos gêmeos Álvaro e Edmar me fizeram companhia. Fiquei satisfeito e com menos medo de me perder na companhia daqueles dois machos fortes, só musculos, carregavam sacos de arroz de sessenta quilos diariamente, pensei:

-Tô feito!

Enganei-me totalmente!

Caminhávamos lentamente na mata há pouca distância.

Percebi que estávamos andando em círculos numa parte alagada e cheia de espinhos. Aprendi que aquilo era um sintoma de que estávamos “mundiados” quer dizer o curupira nos encantou.

Ouvi um grito de socorro vindo de meus valentes escudeiros. Corri na direção e encontrei-os abraçados chorando.

- Me tirem daqui!

Acalmei-os e mostrei como sair das garras do curupira.

Pega-se um cipó, tece uma rodinha e esconde a ponta. Pendura num galhinho e vai embora. O curupira que vem atrás pega a rodinha de cipó e fica procurando a ponta, aí dá tempo de sair do encantamento.

Não contei nada para ninguém na casa grande sobre a coragem dos gêmeos, os outros iriam pegar na pele deles.

Vida feliz!

17/08/2024

Pedro Parente

  



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