MONTMARTRE SÃOJOANENSE
Sou brasileiro que vou morrer com o Passaporte em branco. Nunca fui ao exterior por falta de dinheiro ou curiosidade. Tive momentos de dúvidas quando meu pensamento me transportava as minhas origens no país italiano, porém abusando da tecnologia moderna na tela do computador visitei muitos países do mundo evitando o estresse de passar horas dentro de um avião na travessia do Atlântico. Tenho como consolo a aula ministrada por Ariano Suassuna onde debocha dessa situação de sertanejo fixo no seu pedaço do sertão brasileiro.
Essa condição não impediu de pesquisar principalmente, as cidades mais famosas do mundo. Assim foi que me detive sobre os bairros de Paris e ali encontrei Montmartre, segundo a literatura, o bairro mais boêmio de Paris. Afastado em uma colina abriga boêmios, pintores e outros amantes das artes.
Nas minhas quimeras, pela similitude elegi o Bairro do Bonfim aqui em São João del-Rei a minha Montmartre.
Lá frequentei e morei durante tempos felizes da minha vida. Haviam vários bares muito bem servidos pela família de seus proprietários. Ambiente familiar e sem preconceitos, sentavam-se a mesma mesa pessoas de diferentes credos, opinião, cor e nível social. Não me lembro de ter presenciado nenhuma desavença.
Na medida que a cerveja ia subindo, os frequentadores deixavam a timidez de lado, os músicos se aglutinavam e a madrugada terminava ao som de belas canções seresteiras.
Me parece que hoje somente o Penas Bar da família do Marcelo, Marcos, Alemão e outros, resiste heroica e honestamente atendendo à sua vastíssima clientela naquela Praça.
Hoje, fato recorrente, sonhei com meus amigos Alaur, Antônio José, sua esposa, Bolão, Aldo... numa daquelas noites encantadas e acordei chorando.
No final da rua João da Mata, no bar do Antônio José, em sua casa, havia as “Terças do Aldo” nas noites das terças-feiras. Grande voz que se acompanhava ao violão.
Um show inesquecível.
O barbeiro é além do seu ofício, um contador de causos inusitados, transformando seu salão em um verdadeiro palco onde desopila o fígado dos frequentadores que vão lá só com a finalidade de rir. No final do dia pinga e um pedaço de mortadela cotizada pela rapaziada.
Tudo de bom!
A vida é madrasta!
Nos presenteia com a vida e alguns momentos de prazer, depois nos toma tudo!
Vida que segue!
29/06/2024
Pedro Parente