domingo, 20 de maio de 2018

LONGO CAMINHO


LONGO CAMINHO.
Nasci de famílias oriundas da Europa e aqui se miscigenaram com outros europeus e nativos descendentes dos donos das terras invadidas pelos “colonizadores”.
O patriarca do meu lado materno é oriundo de Lisboa, Portugal. Hilário Pedro Barroso primo do Almirante Barroso – Barão do Amazonas, comandante da Armada Imperial na Batalha de Riachuelo.
Tornou-se proprietário de um imenso latifúndio no Pará tendo adquirido o titulo honorífico de Coronel da Guarda Nacional que o tornava responsável pela segurança da área.
Na sua bagagem trouxe a pecha de escravagista, prática comum à época.
No alto rio Guamá, estabeleceu-se criando o sítio de nome Canta Galo.
Ali desenvolveu o extrativismo e agricultura. Havia um pequeno armazém com gêneros de primeiras necessidades para atender aos colonos, pois os escravos eram administrados por ele.
Pobres almas!
Arrancados da terra natal, onde desfrutavam da liberdade de ir e vir pelas terras longínquas da África. Amarrados pelo pescoço como animais selvagens eram postos ao trabalho em condições desumanas. Se fizessem algo que desagradasse o patrão eram presos a um instrumento de tortura chamado tronco onde eram açoitados com cordas, rebenque ou barra de ferro, alguns até à morte, talvez por ter comido uma fruta do quintal.
Construiu um sobrado na cidade de Belém, no Largo da Sé o qual dava os fundos para a baía de Guajará. Ali atracava seu barco a motor chamado Leopoldina que fazia o transporte das mercadorias vindas do Canta Galo.
Demorei a me livrar dessa herança burguesa. Dessa maneira egoísta de olhar limitado só percebendo aquilo que me interessava e fazia bem.
Aos outros? A indiferença!
Quando saí de casa aos dezenove anos, com uma sacola de mão trazendo duas mudas de roupa e vestido com o terno do meu pai, cheguei ao Rio de Janeiro.
Lembro-me que uma das alças da sacola estava arrebentada.
Ainda com o rompante de burguês elitista, passei a conviver numa camada mais baixa da sociedade e comecei a entender o que é solidariedade e humildade.
Felizmente, há muito custo, desvencilhei-me daqueles preconceitos idiotas e passei a aceitar o mundo da forma que ele é.
“Só os tolos e mortos jamais mudam de opinião”. (Russel)
No meu desiderato espero que o bem prevaleça.
Que as injustiças sejam reparadas.
Que as pessoas se respeitem mais e olhem em sua volta.
Às vezes uma mão amiga, um abraço sincero ameniza o sofrimento de um desesperado.
Esqueçamos os juros e a ostentação. Para onde vamos nada disso tem significado.
Encontrei meus caminhos junto aos humildes e menos aquinhoados pela sorte.
Dividiram meu país e hoje o ódio corrompe muitos corações incautos.
Que seja breve!
20/05/2018
Pedro Parente

Nenhum comentário: