ESTIRÃO
Nascido de famílias
oriundas da Europa como a maioria dos brasileiros, trago no sangue, a raça de
portugueses, italianos, espanhóis e índios.
Uma verdadeira
procissão de bandeiras nacionais.
Por ter participado
mais diariamente da vida dos ascendentes italianos, meus laços tornaram-se mais
estreitos com a turma da “Bota” como é apelidada a velha Itália devido seu
contorno geográfico.
Meu bisavô Nicola Maria
Parente, nascido em Marsico Nuovo na Basilicata antiga Lucânia - IT. Chegou ao
Brasil trazendo o primeiro cinematógrafo produzido pelos Irmãos Lumiére dos
quais era amigo.
Era dado o primeiro
passo para o cinema em movimento no Brasil saindo do modelo mudo, único naquela época.
Estabelece-se em
Abaetetuba-PA após, com seu cinematógrafo, ter feito cinema itinerante de
Taquari – RS até Belém – PA.
Pela proximidade com os
parentes italianos adquiri deles seu jeito singular de ser. Passei a admirá-los
e mantê-los vivos no coração.
As tradicionais
macarronadas de domingo no casarão da Rua Manoel Barata em Belém, regada com
muito queijo e vinho para os mais velhos em torno de uma imensa mesa para
comportar uma imensa família.
O patriarca vovô
Garibaldi sentava-se à cabeceira e vovó Marcela ao seu lado. Pais de uma prole
de onze filhos, alguns já casados àquela época, era uma alegria só.
O macarrão servido em
várias travessas generosas saciava o apetite e trazia para ali as lembranças e
tradições do além mar. As crianças como eu se fartavam. Suco de frutas locais
ou de uva para a meninada. A algazarra parava quando solicitado pelo anfitrião.
Hora do almoço! Silêncio! Somente os mais velhos podiam falar de amenidades e
em voz baixa.
Quantas lembranças
daquele casarão. Outros tempos pé direito alto, cômodos enormes.
Guardo na minha retina
a imagem de minha avó sentada tendo à sua frente um cavalete onde habilidosamente
tecia renda de bilros. Meu avô já de pijama em casa a seu lado lendo livros de
sua preferência. Ao fundo um jardim interno muito bem cuidado com flores tropicais
e nas gaiolas pequenos periquitos australianos se acarinhavam o dia todo.
Menino de dez anos
minha mãe me arrumava todo aos domingos e acanhado ia visitar meus avós.
Chegando ao casarão encontrava-me
com eles. Muito tímido e sem graça era recebido pela vovó de braços abertos,
reclamando:
- Tu és o único neto que
não me beijas!
Meu coração aos pulos
não cabia dentro do coração de tanta emoção. Sentava-me ao seu lado com uma
vontade louca pelo colo dela. Continha-me e ficava admirando ela tecer suas
rendas.
Fui crescendo sem saber
que a cada dia perdia aqueles momentos de tanta felicidade.
Aos onze anos
presenciei meu primeiro velório. Minha avozinha me deixou. Rodeada pelo carinho
da família, moribunda no leito de morte pediu uma vela acesa e morreu. Dez
meses depois meu avô foi juntar-se a ela.
A vida passou, mas as
lembranças ficaram de duas casa que fizeram minha alegria, o do Largo da Sé de
propriedade dos Barroso onde morava a Dindinha e o casarão da Manoel Barata da família
Parente.
Aqueles momentos e a
convivência com o carinho e afeto da minha família, ajudaram a forjar meu
caráter e admirar meu semelhante.
Vim para o Rio para
voltar na semana seguinte e por aqui fui ficando e me envolvendo nas teias que
eu mesmo teci.
Valeu a pena pelos amigos
que tive e os filhos Lia, Nara e Pedro que amo muito.
22/05/2018
Pedro Parente
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