terça-feira, 22 de maio de 2018

ESTIRÃO


ESTIRÃO
Nascido de famílias oriundas da Europa como a maioria dos brasileiros, trago no sangue, a raça de portugueses, italianos, espanhóis e índios.
Uma verdadeira procissão de bandeiras nacionais.
Por ter participado mais diariamente da vida dos ascendentes italianos, meus laços tornaram-se mais estreitos com a turma da “Bota” como é apelidada a velha Itália devido seu contorno geográfico.
Meu bisavô Nicola Maria Parente, nascido em Marsico Nuovo na Basilicata antiga Lucânia - IT. Chegou ao Brasil trazendo o primeiro cinematógrafo produzido pelos Irmãos Lumiére dos quais era amigo.
Era dado o primeiro passo para o cinema em movimento no Brasil saindo do modelo mudo, único naquela época.
Estabelece-se em Abaetetuba-PA após, com seu cinematógrafo, ter feito cinema itinerante de Taquari – RS até Belém – PA.
Pela proximidade com os parentes italianos adquiri deles seu jeito singular de ser. Passei a admirá-los e mantê-los vivos no coração.
As tradicionais macarronadas de domingo no casarão da Rua Manoel Barata em Belém, regada com muito queijo e vinho para os mais velhos em torno de uma imensa mesa para comportar uma imensa família.
O patriarca vovô Garibaldi sentava-se à cabeceira e vovó Marcela ao seu lado. Pais de uma prole de onze filhos, alguns já casados àquela época, era uma alegria só.
O macarrão servido em várias travessas generosas saciava o apetite e trazia para ali as lembranças e tradições do além mar. As crianças como eu se fartavam. Suco de frutas locais ou de uva para a meninada. A algazarra parava quando solicitado pelo anfitrião. Hora do almoço! Silêncio! Somente os mais velhos podiam falar de amenidades e em voz baixa.
Quantas lembranças daquele casarão. Outros tempos pé direito alto, cômodos enormes.
Guardo na minha retina a imagem de minha avó sentada tendo à sua frente um cavalete onde habilidosamente tecia renda de bilros. Meu avô já de pijama em casa a seu lado lendo livros de sua preferência. Ao fundo um jardim interno muito bem cuidado com flores tropicais e nas gaiolas pequenos periquitos australianos se acarinhavam o dia todo.
Menino de dez anos minha mãe me arrumava todo aos domingos e acanhado ia visitar meus avós.
Chegando ao casarão encontrava-me com eles. Muito tímido e sem graça era recebido pela vovó de braços abertos, reclamando:
- Tu és o único neto que não me beijas!
Meu coração aos pulos não cabia dentro do coração de tanta emoção. Sentava-me ao seu lado com uma vontade louca pelo colo dela. Continha-me e ficava admirando ela tecer suas rendas.
Fui crescendo sem saber que a cada dia perdia aqueles momentos de tanta felicidade.
Aos onze anos presenciei meu primeiro velório. Minha avozinha me deixou. Rodeada pelo carinho da família, moribunda no leito de morte pediu uma vela acesa e morreu. Dez meses depois meu avô foi juntar-se a ela.
A vida passou, mas as lembranças ficaram de duas casa que fizeram minha alegria, o do Largo da Sé de propriedade dos Barroso onde morava a Dindinha e o casarão da Manoel Barata da família Parente.  
Aqueles momentos e a convivência com o carinho e afeto da minha família, ajudaram a forjar meu caráter e admirar meu semelhante.
Vim para o Rio para voltar na semana seguinte e por aqui fui ficando e me envolvendo nas teias que eu mesmo teci.
Valeu a pena pelos amigos que tive e os filhos Lia, Nara e Pedro que amo muito.
22/05/2018
Pedro Parente

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