segunda-feira, 26 de agosto de 2024

OSCAR JORNA 56

 “OSCAR JORNA 56”

Anos 60. 

Nossa turma continuava “ativa e operante” jogando bola num campo improvisado dentro da área comum dos prédios, de vez em quando uma vidraça quebrada pela falta de perícia de algum dos atletas. Só acontecia nos apartamentos mais baixos pois faltava força para chegar ao 16° andar. Não havia discussão no dia seguinte o nosso Djalma já estava lá colocando outro vidro. As mães preferiam os filhos ali na pelada do que alçando voo em aventuras distantes. 

A maioria dos competidores era estudante, como eu era operário não podia participar, pois nos finais de semana os times já estavam formados. Todos unidos, inflação de alegria, abraços e sorrisos.

Nesse clima vivia a maioria dos moradores. Os prédios muito cobiçados pela construção sólida e apartamentos amplos servidos por elevadores de alta qualidade. Por eles passaram inúmeras personalidades de poetas como Paulo Mendes Campos a jogadores de futebol como Newton Santos. Foi então que budou-se para o B1 um produtor cinematográfico chamado João, João de Deus (acho). Era amigo do nosso amigo Carlinhos Raposo, boa pinta, extrovertido, bom de pelada na areia onde fazia companhia para o Estradinha e outros do prédio.

O João (de Deus?) pediu ao Carlinhos que arrumasse alguns coadjuvantes para filmar uma cena de seu filme. O Carlinhos seria o ator principal.

Tudo combinado. O título do filme: JUVENTUDE TRANVIADA. Naquela época identificava os “bad boys”. A cena foi filmada na Sorveteria Kidy’s onde hoje é o Garden Bar.

Naquela época foi uma das primeiras sorveterias daquela área com balcão frigorífico. A noite transformava-se num bar soturno, pouca luz com lâmpadas fracas e ainda servia cachaça no balcão. Convite aos delinquentes e meliantes.

Na noite da filmagem a turma ficou alvoroçada e algumas famílias dos participantes também. Foram todos assistir a filmagem. Sob aplauso chegaram os atores.

Confusão de fios para os canhões de iluminação, o cinegrafista coitado com uma câmara jurássica tentava os melhores ângulos num sacrifício hercúleo. 

Cena principal, Carlinho sentado a uma mesa de pés de ferro muito enferrujada, blusa aberta em desalinho, pernas esticadas numa posição totalmente relaxada. O detalhe era o cigarro no canto da boca e olhos semicerrados. Deu trabalho para deixar transparecer que fosse de maconha. Algum prático consumidor o fez com habilidade.

Lançamento no Cinema em tela Cinemascope. Plateia lotada na maioria por familiares dos atores inclusive os austeros pais do Carlinhos para prestigiar a desenvoltura de seu filho, apesar de não saberem qual era o enredo.

Passado uns dias, chega o Carlinhos ainda com algumas marcas da surra que levou dos pais por ter fumado maconha.

Carreira efêmera de um de um promissor ator cinematográfico.

05/04/2004

Pedro Parente


largo da se SOBRADO

sábado, 17 de agosto de 2024

CURUPIRA OU ANHANGÁ

 CURUPIRA OU ANHANGÁ


A fazenda do vô Hilário se situava à margem direita do alto rio Guamá na confluência com o igarapé Muraiteua encrustada na mata.

O casarão era iluminado por lamparinas e candieiros, nessas condições vivia-se aos modos dos ribeirinhos. A alimentação vinha do rio e da floresta.

Quem não conhece não faz ideia daquele modus vivendi. A cada passo um sobressalto, cobra, insetos peçonhentos e para piorar as entidades extra-sensoriais da mata.

No rio, a pororoca.

Como nós irmãos éramos frequentadores assíduos, ouvíamos os “causos” contados pelos colonos e trabalhadores da fazenda, já entravamos na floresta precavidos.

Certo dia dois irmãos gêmeos Álvaro e Edmar me fizeram companhia. Fiquei satisfeito e com menos medo de me perder na companhia daqueles dois machos fortes, só musculos, carregavam sacos de arroz de sessenta quilos diariamente, pensei:

-Tô feito!

Enganei-me totalmente!

Caminhávamos lentamente na mata há pouca distância.

Percebi que estávamos andando em círculos numa parte alagada e cheia de espinhos. Aprendi que aquilo era um sintoma de que estávamos “mundiados” quer dizer o curupira nos encantou.

Ouvi um grito de socorro vindo de meus valentes escudeiros. Corri na direção e encontrei-os abraçados chorando.

- Me tirem daqui!

Acalmei-os e mostrei como sair das garras do curupira.

Pega-se um cipó, tece uma rodinha e esconde a ponta. Pendura num galhinho e vai embora. O curupira que vem atrás pega a rodinha de cipó e fica procurando a ponta, aí dá tempo de sair do encantamento.

Não contei nada para ninguém na casa grande sobre a coragem dos gêmeos, os outros iriam pegar na pele deles.

Vida feliz!

17/08/2024

Pedro Parente

  



sexta-feira, 16 de agosto de 2024

NAVIO DE MOSQUEIRO

    MOSQUEIRO


Não sei mais como é hoje. 

No meu tempo de colegial havia férias escolares em julho e final do ano, dezembro e janeiro. Sendo daqueles alunos que procuram a última fila de carteiras nas salas de aula adorava ficar o dia inteiro na praia por conta “do à toa”.

Por doença do meu irmão, meu pai fora aconselhado pelo médico da família que fosse para praia. Foi construído um chalé de madeira avarandado em frente à Praia Grande na Ilha de Mosqueiro o balneário escolhido por veranistas endinheirados que exploravam a borracha e o cacau da Amazônia.

O transporte era feito de navio Mamãe saia de casa somente nesse dia ou para alguma procissão. 

Coitada!

Tinha que levar tudo, até as panelas e o fogão, pois se deixássemos lá não encontraríamos nada. 

O que era colônia de pescadores transformava-se em colônia de pecadores, ladrõezinhos descuidistas.

As férias do meu pai não coincidiam com as nossas Eu tinha pena dele. Chegava no navio diariamente no início da noite e as cinco horas tinha que estar no ponto do micro ônibus que corria a ilha pegando os passageiros que iam para Belém.

Não faltava um só dia!

16/08/2024

Pedro Parente

 








   MOSQUEIRO

Não sei mais como é hoje.

No meu tempo de colegial havia férias escolares em julho e final do ano, dezembro e janeiro. Sendo daqueles alunos que procuram a última fila de carteiras nas salas de aula adorava ficar o dia inteiro na praia por conta “do à toa”.

Por doença do meu irmão, meu pai fora aconselhado pelo médico da família que fosse para praia. Foi construído um chalé de madeira avarandado em frente à Praia Grande na Ilha de Mosqueiro o balneário escolhido por veranistas endinheirados que exploravam a borracha e o cacau da Amazônia.

O transporte era feito de navio Mamãe saia de casa somente nesse dia ou para alguma procissão.

Coitada!

Tinha que levar tudo, até as panelas e o fogão, pois se deixássemos lá não encontraríamos nada.

O que era colônia de pescadores transformava-se em colônia de pecadores, ladrõezinhos descuidistas.

As férias do meu pai não coincidiam com as nossas Eu tinha pena dele. Chegava no navio diariamente no início da noite e as cinco horas tinha que estar no ponto do micro ônibus que corria a ilha pegando os passageiros que iam para Belém.

Não faltava um só dia!

16/08/2024

Pedro Parente

 

 

 

 

 

 


quarta-feira, 14 de agosto de 2024

PAPAI

 PAPAI

Há dias comemorou-se Dia dos Pais. Pai homem porque “pais” engloba o casal pai e mãe.

Ele é um ser especial que enfrenta um leão por dia passa muitas vezes pelo anonimato, raramente lembrado nas homenagens do dia a dia. Infelizes os que não o conheceram.

No meu caso lembro com muita saudade dele.

Levantava-se pela manhã, mamãe da janela do sobrado em que morávamos o seguia com seus olhos até que entrasse no Banco onde trabalhava. 

Uma ocasião deixou o emprego e foi trabalhar com seu irmão em um barco grande que construíram. 

Levavam mantimentos diversos que trocavam com os ribeirinhos por produtos da floresta.

Carga perigosa, latas contendo vinte litros de querosene pois não tinha energia elétrica nas palafitas.

No meio do Amazonas o motor do barco pifou. Ficaram a deriva açoitado por forte temporal. As ondas cresceram muito e havia risco de soçobrarem. 

Papai, que se dizia ateu, fez uma promessa à Virgem de Nazaré, nossa padroeira, de acompanhar o Círio com a família, todos descalços.

Conseguiram se salvar. Depois que a tempestade passou e o rio amainou. 

Importaram a peça visto que o Brasil não fabricava quase nada.

Instalaram o eixo virabrequim após esperarem vários dias e seguiram viagem, porém meu pai por ser muito conhecido, fingiu esquecer-se da promessa, mas a mamãe a quem houvera contado, não esqueceu.

Conclusão, no dia da procissão do Círio de Nazaré, mamãe colocou a família toda nos cascos, isto é, sem sapatos. 

Meu pai envergonhado com a rosto vermelho de vergonha, atrasou o passo para que fossemos todos no final da romaria evitando com isso olhares conhecidos.

Minha singela de uma das lembranças daquele que não me sai da cabeça desde que se foi.

Espero encontrá-lo novamente!

14/08/2024

Pedro Parente



sexta-feira, 9 de agosto de 2024

OUTONO

 OUTONO




Quando adquiri o terreno onde hoje moro no arrabalde de São João del-Rei, tive que começar do zero, pois era de meia encosta tomado de capim “barba de bode”, isto é, sem valor. 

Seu acesso por uma estradinha de terra, muitas vezes tive que pedir licença aos bezerros de um senhor de cabeça branca que os tocava carinhosamente para outro pasto.

Com auxílio de um trator removi o capim ficando só terra. Me dispus a plantar muitas árvores, pois sendo amazônico trago comigo a alma da floresta, a mansidão e a força daqueles rios que por lá serpenteiam.

Ainda moço não percebia que estava criando uma família. Cada árvore uma vida. 

Hoje estou rodeado por elas e na minha idade provecta, aprendi a vê-las de outra maneira, chego a conversar com elas e ouvir suas respostas com a sensação de um generoso abraço.

Há décadas assisto o outono chegar e observar o comportamento das árvores. A sensação que tenho é de ficarem envergonhadas. Por perderem suas folhas ficam expostas e desnudas mostrando seus caules a olhares indiscretos. 

Logo chegará a primavera e suas vestes serão recompostas. Aí exibem sua beleza presenteando-nos com flores de várias matizes e frutos saborosos.

Aliás recebi um presente. 

Dizem que quem planta um ipê amarelo, raramente tem tempo de vê-lo florescer. 

O ipê que plantei com a Neném nos presenteou com uma tímida florada. 

A primeira!

09/08/2024

Pedro Parente



 


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

 BANCÁRIO

Meu pai era filho de emigrantes italianos que se estabeleceram em Abaetetuba as margens do rio Maratauira no baixo Tocantins no Pará. Ainda menino pelas mãos de seu pai, próspero comerciante, entrou para um Banco com sede em Belém na função de “office boy” que consistia em ajudar no expediente interno levando papéis de uma mesa à outra dos funcionários graduados.

Naquela época, sem os recursos modernos, a maioria das coisas eram feitas manualmente inclusive a escrituração bancária. Por isso, as escolas de ensino fundamental, usando cadernos próprios ensinavam uma matéria que não ouço mais falar chamada caligrafia. Ao se propor uma vaga para trabalhar era fundamental que a pessoa tivesse boa caligrafia cursiva.

Meu pai não foi dos melhores alunos, porém em caligrafia era sempre elogiado pela mestra de quem recebia as melhores notas. Não se tornou nem doutor e nem banqueiro, mas sua aptidão lhe ajudou a ir galgando degraus superiores no seu emprego, pois tudo era escriturado ipsis litteris, isto é a mão livre em enormes livros pautados.

A vida é generosa com alguns e severa para outros!

A família proprietária do Banco envelheceu e consequentemente houve substituição na administração. Tomou posse na presidência da empresa um jovem e progressista rapaz da mesma idade do meu pai e o nomeou gerente geral.  Tornaram-se amigos íntimos.

“Nessas voltas que a vida dá...” vim para o Rio disputar um campeonato brasileiro de remo na Lagoa Rodrigo de Freitas e por lá fiquei morando com minha tia no Leblon no Edifício dos Jornalistas Trabalhava de estafeta num escritório na Avenida Rio Branco.

O Banco inaugurou uma Agência na rua da Alfândega e lá fui trabalhar por ser filho do gerente de Belém. Passei a ser olhado de várias maneiras, uns por inveja outros por puxa-saquismo, porém números nunca foram meu forte, ainda mais tomar conta do dinheiro alheio.

Fui levando recebendo um certo respeito da diretoria. Nessa condição coloquei um amigo de boêmia no Banco. Não demorou, mandaram-no embora. Solidário, botei minha carteira do trabalho em cima da mesa do gerente e pedi que me demitisse. O fez sob protesto.

Lá estava eu desempregado.

Vestia meu terno e ia para o Centro garimpar emprego.  

O Contador do Banco que saí era um bom homem. Preocupado com minha situação mexeu seus pauzinhos entre os colegas bancários e arranjou uma vaga no Banco Irmãos Guimarães esquina de Sete de Setembro com Gonçalves Dias, próximo a badalada Confeitaria Colombo. Aquela dos “velhinhos...”! (marchinha de carnaval).

Fui entrevistado por um subgerente mal encarado logo percebi que era egresso de tropa militar, pois o corte de cabelo o denunciava. Gravata apertada botava as banhas do pescoço pra fora e a papada escondia o nó feio, enorme, triangular e úmido de suor. O paletó não abotoava e o sujeito tinha um olhar peculiar a “capitão do mato”.

Sisudo me fez umas perguntas inerentes ao cargo pleiteado no que lhe respondi de maneira correta, pois já trazia experiência do outro Banco. Não simpatizei com o cidadão. Trazia consigo muito recalque. Tive certeza que seria meu algoz.

Fiquei como atendente no balcão porque era bonitinho, educado e me vestia bem. 

Uma tarde chegou um cliente que tinha sumido, deixando sua conta parada. Havia uma chapinha de metal que identificava cada cliente com o número da conta, seu nome e endereço. As chapinhas das contas paradas eram separadas das contas em movimento. O subgerente mandou eu autenticar a cartolina com a chapinha do cliente. Se ele estava sumido procurei nas contas paradas e passei para contas em movimento.

Lá em baixo os dois me esperavam, o subgerente e o chefe da secção Normando. Me perguntaram o que fiz. Lhes respondi que tinha tirado a chapinha das contas paradas e passado para as contas em movimento. Riram entre si e o Normando afirmou pro sub:

- Bancário antigo!

Desse dia em diante fiquei com esse apelido até me apelidarem de “Geraldinho”.

Entrei em abril e em setembro recebi cem por cento de aumento.

Fiquei super feliz!

Felicidade efêmera, o recalcado me mandou embora sob protesto dos colegas.

Vida que segue!

05/08/2024

Pedro Parente





terça-feira, 30 de julho de 2024

ESTILOSO

 ESTILOSO

Nas minhas andanças pela vida, abençoado destino que me empurrou para o Rio de Janeiro onde pude fazer meu curso de “malandragem” frequentando lugares de samba e boemia. Seria impossível fazê-lo, sem um emprego decente.

Naquela época ainda se usava “terno” de tecido que se entregava ao alfaiate e com a fita métrica tirava suas medidas, ombro, cintura, comprimento das pernas e braços. Não existiam ternos prontos eram todos feitos usando as medidas de cada cidadão. O tecido era escolhido pelo freguês que normalmente já chegava com o pano nas mãos. Alguns alfaiates tinham um pequeno estoque para atender aqueles indecisos.

Haviam tecidos sofisticados como o Tropical Inglês, Palha de Seda Italiana, Linho Irlandês, Casimira e outros tantos...

Numa viagem que fiz à Belém a fim de visitar minha família, meu pai me deu de presente um “corte” (medida certa para um terno) de Tropical Inglês risca de giz ganho de um amigo.

Quando voltei me apressei em mandar fazer um terno com aquele tecido chique.

Eu morava na Ataulfo de Paiva 50-B2 no Edifício dos Jornalistas. Meu vizinho do andar de baixo era um exímio alfaiate e sua fama era de fazer os ternos do Presidente JK. 

Recorri a ele. 

Prontificou-se a fazê-lo e no dia marcado entregou-me a joia, uma verdadeira joia. Estilo moderno, jovem que me fez sentir um magnata.

Nessa época eu trabalhava numa Agência do Banco Irmãos Guimarães no centro do Rio na esquina de rua Gonçalves Dias e Sete de Setembro, próximo à Confeitaria Colombo onde “Os Velhos na Porta da Colombo” da famosa marchinha daqueles carnavais, desfilavam seus valorosos ternos.

Fui até a Colombo comer o salgadinho mais barato, o dinheiro não dava para pedir dois, teria que ser só um, mesmo!

Passei pelos velhinhos, alguns me olharam de soslaio, mas percebi alguns de nariz torcido fingindo indiferença.

Pois bem na Agência éramos todos colegas, mas acima de tudo amigos. Relacionamento fantástico e quanta saudade sinto deles.

O chefe das Contas-correntes chamava-se Normando quando me viu entrar pra “pegar no trampo” de terno de Tropical Inglês risca de giz e o jornal debaixo do braço, exclamou:

- Gente! Atenção que chegou o Dr. Geraldinho (referindo-se ao Diretor do Banco) por causa da minha roupa.,

Nesse dia fui aclamado por palmas e gargalhadas dos meus saudosos amigos.

Entre os companheiros, daquele dia em diante passei a ser chamado de Geraldinho!

Vida que segue!

Pedro Parente

30/07/2024




quinta-feira, 25 de julho de 2024

 OS BARROSO.


Oriundo de Lisboa, meu avô de quem herdei o nome Hilário Pedro, migrou com sua família para o Brasil trazendo muito dinheiro que comprou do governo brasileiro glebas imensas de terras no Alto Guamá. 

Membro da família do Almirante Barroso, herói da batalha do Riachuelo, impunha respeito naquelas bandas pouco habitadas tendo adquirido o título de Cel. Da Guarda Nacional tornando-se responsável pela segurança da área adquirida.

Construiu uma grande fazenda e lhe pôs o nome de Canta Galo. Explorava o extrativismo de cacau, madeira e várias outras riquezas da mata. 

Logo Canta Galo virou um grande entreposto de compra e venda de produtos. Alí Os colonos eram abastecidos de gêneros vindos da cidade de Belém, açúcar, café e principalmente querosene que abastecia as lamparinas e candeeiros, pois não havia eletricidade. Anos depois criaram uma geladeira que funcionava com querosene e chamava-se Gelomatic.

Foi um sucesso!

Casou-se com minha avó uma brasileira de Ourém-PA ou São Miguel do Guamá que trazia em suas veias o sangue índio. Segundo mamãe ele carregou sua esposa em seu colo quando nasceu. A diferença de idade entre os dois era de mais de vinte anos ao se casarem. 

O homem era astuto!

No Largo da Sé em Belém construiu um sobrado de dois andares. Muito bonito. A frente do imóvel era para a praça e os fundos iam até a baia onde tinha um trapiche para descarregar os produtos vindos de sua fazenda através de sua lancha chamada Leopoldina, nome da minha mãe.

A parte de baixo era depósito de mercadorias, a cozinha, o dormitório das mucamas, arrumadeiras, passadeiras e cozinheiras.

A parte de cima, um luxo! 

Dormitório da família e um lindo salão de festas. Mobiliário refinado para receber os convidados para grandes festas proporcionadas pelo vô Hilário que já tinha uma grande reputação entre os políticos e autoridades eclesiásticas.

Essa obra de arte durou até a ditadura. Foi requisitada pelo Exército juntamente com o restante do casario colonial daquela época.  

Tudo demolido e transformado em área de lazer.

O sobrado do meu avô é o primeiro da foto. Era um primor seu interior.



 

Ali foi a raiz dos Barroso da minha geração. Não tenho muitas informações que gostaria muito de possuir, pois quando vim ao mundo o vô já tinha falecido.

O casal produziu uma prole de sete filhos, dois homens e cinco mulheres.

Um deles formou-se em piloto de Longo Curso da Marinha Mercante e veio para o sul comandando o navio Santos. Trouxe consigo uma de suas irmãs, a Emília para cuidar de sua casa enquanto estivesse em alto-mar. Casou-se com tia Lilasia. Teve dois filhos Lysis e Lúcio.

Tio Antônio tinha o apelido de Beba. Comprou um terreno em Ipanema e foi criticado pelos colegas porque ali só existia areia. Ninguém pensava que aquele bairro seria o que é hoje. Construiu um belo bangalô com quintal na rua Barão da Torre no Rio de Janeiro.

Após sua morte o imóvel foi vendido e com o produto foram comprados dois apartamentos e uma casa todos na zona sul que abrigaram tia Lilásia, Lysis e Lúcio.

Tia Lilásia passando certa dificuldade internou os primos no colégio salesiano de São João del-Rei,

A família ficou separada. Tínhamos curiosidade de conhecer os primos.

Em 1951 Lysis e Lúcio finalmente chegaram e ficaram hospedados no sobrado do Largo da Sé na casa da Dindinha (Tia Maria).

Recebidos com alegria foram brindados com uma grande mesa repleta de iguarias do Pará. A noite uma bela festa nos salões encantados do sobrado.

São histórias que dariam para publicar uma enciclopédia, porem me detenho na chegada dos primos por ter sido um momento que marcou minha feliz infância.

Os primos se entrosaram rapidamente com a gente, meus irmãos mais velhos tinham a mesma idade. 

Adoraram os banhos de igarapés e finalmente chegamos até nossa casa na ilha de Mosqueiro.

 


Na Praia Grande de frente para a Ilha de Marajó separadas pela baia de Santo Antônio. A distância é tão grande que de uma ilha não se avista a outra. 

Casa fresca avarandada toda de madeira sombreada de mangueiras onde passávamos as férias.

Na praia em frente a casa correu logo a notícias de visitantes do Rio de Janeiro, fato raro pois Belém era ligada ao sul somente por navio ou avião, não havia estada.

Lúcio com habilidade deslizava de peito sobre a marola que quebrara na areia. Foi até aplaudido pelos banhistas. Lysis se fartava com as comidas principalmente a maniçoba.

Havia um lugar para dançar e pra lá foram todos os rapazes tomar umas e dançar com as moças. Os nativos enciumados procuraram encrenca com nossos cariocas e o pau quebrou.

Brigaram todos, mas o prejudicado foi o Lúcio com a cabeça quebrada.

E agora? Como chegar em casa?

As tias cheias de dengo com os rapazes iam desmaiar!

Chegaram na maior cara de pau! O esculacho foi geral! Só faltaram carregar o Lúcio no colo. O ferimento foi superficial e acabou tudo em harmonia.

Chegou o dia da partida, os primos teriam que voltar.

Lembro-me que embarcaram num avião DC-3 e na nacele estava escrito TUPINIQUIM.

Lysis queria me trazer, porém mamãe não deixou.

Foi um momento triste vê-los partirem.

Mais tarde, no Rio Lysis me deu a honra de ser padrinho de sua filha Márcia. Fomos amigos até pouco tempo quando nos deixou!

25/07/2024

Pedro Parente













OS BARROSO.

 

Oriundo de Lisboa, meu avô de quem herdei o nome Hilário Pedro, migrou com sua família para o Brasil trazendo muito dinheiro que comprou do governo brasileiro glebas imensas de terras no Alto Guamá.

Membro da família do Almirante Barroso, herói da batalha do Riachuelo, impunha respeito naquelas bandas pouco habitadas tendo adquirido o título de Cel. Da Guarda Nacional tornando-se responsável pela segurança da área adquirida.

Construiu uma grande fazenda e lhe pôs o nome de Canta Galo. Explorava o extrativismo de cacau, madeira e várias outras riquezas da mata.

Logo Canta Galo virou um grande entreposto de compra e venda de produtos. Alí Os colonos eram abastecidos de gêneros vindos da cidade de Belém, açúcar, café e principalmente querosene que abastecia as lamparinas e candeeiros, pois não havia eletricidade. Anos depois criaram uma geladeira que funcionava com querosene e chamava-se Gelomatic.

Foi um sucesso!

Casou-se com minha avó uma brasileira de Ourém-PA ou São Miguel do Guamá que trazia em suas veias o sangue índio. Segundo mamãe ele carregou sua esposa em seu colo quando nasceu. A diferença de idade entre os dois era de mais de vinte anos ao se casarem.

O homem era astuto!

No Largo da Sé em Belém construiu um sobrado de dois andares. Muito bonito. A frente do imóvel era para a praça e os fundos iam até a baia onde tinha um trapiche para descarregar os produtos vindos de sua fazenda através de sua lancha chamada Leopoldina, nome da minha mãe.

A parte de baixo era depósito de mercadorias, a cozinha, o dormitório das mucamas, arrumadeiras, passadeiras e cozinheiras.

A parte de cima, um luxo!

Dormitório da família e um lindo salão de festas. Mobiliário refinado para receber os convidados para grandes festas proporcionadas pelo vô Hilário que já tinha uma grande reputação entre os políticos e autoridades eclesiásticas.

Essa obra de arte durou até a ditadura. Foi requisitada pelo Exército juntamente com o restante do casario colonial daquela época. 

Tudo demolido e transformado em área de lazer.

O sobrado do meu avô é o primeiro da foto. Era um primor seu interior.

 

 

Ali foi a raiz dos Barroso da minha geração. Não tenho muitas informações que gostaria muito de possuir, pois quando vim ao mundo o vô já tinha falecido.

O casal produziu uma prole de sete filhos, dois homens e cinco mulheres.

Um deles formou-se em piloto de Longo Curso da Marinha Mercante e veio para o sul comandando o navio Santos. Trouxe consigo uma de suas irmãs, a Emília para cuidar de sua casa enquanto estivesse em alto-mar. Casou-se com tia Lilasia. Teve dois filhos Lysis e Lúcio.

Tio Antônio tinha o apelido de Beba. Comprou um terreno em Ipanema e foi criticado pelos colegas porque ali só existia areia. Ninguém pensava que aquele bairro seria o que é hoje. Construiu um belo bangalô com quintal na rua Barão da Torre no Rio de Janeiro.

Após sua morte o imóvel foi vendido e com o produto foram comprados dois apartamentos e uma casa todos na zona sul que abrigaram tia Lilásia, Lysis e Lúcio.

Tia Lilásia passando certa dificuldade internou os primos no colégio salesiano de São João del-Rei,

A família ficou separada. Tínhamos curiosidade de conhecer os primos.

Em 1951 Lysis e Lúcio finalmente chegaram e ficaram hospedados no sobrado do Largo da Sé na casa da Dindinha (Tia Maria).

Recebidos com alegria foram brindados com uma grande mesa repleta de iguarias do Pará. A noite uma bela festa nos salões encantados do sobrado.

São histórias que dariam para publicar uma enciclopédia, porem me detenho na chegada dos primos por ter sido um momento que marcou minha feliz infância.

Os primos se entrosaram rapidamente com a gente, meus irmãos mais velhos tinham a mesma idade.

Adoraram os banhos de igarapés e finalmente chegamos até nossa casa na ilha de Mosqueiro.

 

Na Praia Grande de frente para a Ilha de Marajó separadas pela baia de Santo Antônio. A distância é tão grande que de uma ilha não se avista a outra.

Casa fresca avarandada toda de madeira sombreada de mangueiras onde passávamos as férias.

Na praia em frente a casa correu logo a notícias de visitantes do Rio de Janeiro, fato raro pois Belém era ligada ao sul somente por navio ou avião, não havia estada.

Lúcio com habilidade deslizava de peito sobre a marola que quebrara na areia. Foi até aplaudido pelos banhistas. Lysis se fartava com as comidas principalmente a maniçoba.

Havia um lugar para dançar e pra lá foram todos os rapazes tomar umas e dançar com as moças. Os nativos enciumados procuraram encrenca com nossos cariocas e o pau quebrou.

Brigaram todos, mas o prejudicado foi o Lúcio com a cabeça quebrada.

E agora? Como chegar em casa?

As tias cheias de dengo com os rapazes iam desmaiar!

Chegaram na maior cara de pau! O esculacho foi geral! Só faltaram carregar o Lúcio no colo. O ferimento foi superficial e acabou tudo em harmonia.

Chegou o dia da partida, os primos teriam que voltar.

Lembro-me que embarcaram num avião DC-3 e na nacele estava escrito TUPINIQUIM.

Lysis queria me trazer, porém mamãe não deixou.

Foi um momento triste vê-los partirem.

Mais tarde, no Rio Lysis me deu a honra de ser padrinho de sua filha Márcia. Fomos amigos até pouco tempo quando nos deixou!

25/07/2024

Pedro Parente

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





sábado, 29 de junho de 2024

MONTMARTRE SÃOJOANENSE

 MONTMARTRE SÃOJOANENSE

Sou brasileiro que vou morrer com o Passaporte em branco. Nunca fui ao exterior por falta de dinheiro ou curiosidade. Tive momentos de dúvidas quando meu pensamento me transportava as minhas origens no país italiano, porém abusando da tecnologia moderna na tela do computador visitei muitos países do mundo evitando o estresse de passar horas dentro de um avião na travessia do Atlântico. Tenho como consolo a aula ministrada por Ariano Suassuna onde debocha dessa situação de sertanejo fixo no seu pedaço do sertão brasileiro.

Essa condição não impediu de pesquisar principalmente, as cidades mais famosas do mundo. Assim foi que me detive sobre os bairros de Paris e ali encontrei Montmartre, segundo a literatura, o bairro mais boêmio de Paris. Afastado em uma colina abriga boêmios, pintores e outros amantes das artes.

Nas minhas quimeras, pela similitude elegi o Bairro do Bonfim aqui em São João del-Rei a minha Montmartre.

Lá frequentei e morei durante tempos felizes da minha vida. Haviam vários bares muito bem servidos pela família de seus proprietários. Ambiente familiar e sem preconceitos, sentavam-se a mesma mesa pessoas de diferentes credos, opinião, cor e nível social. Não me lembro de ter presenciado nenhuma desavença.

Na medida que a cerveja ia subindo, os frequentadores deixavam a timidez de lado, os músicos se aglutinavam e a madrugada terminava ao som de belas canções seresteiras.

Me parece que hoje somente o Penas Bar da família do Marcelo, Marcos, Alemão e outros, resiste heroica e honestamente atendendo à sua vastíssima clientela naquela Praça.

Hoje, fato recorrente, sonhei com meus amigos Alaur, Antônio José, sua esposa, Bolão, Aldo... numa daquelas noites encantadas e acordei chorando.

No final da rua João da Mata, no bar do Antônio José, em sua casa, havia as “Terças do Aldo” nas noites das terças-feiras. Grande voz que se acompanhava ao violão. 

Um show inesquecível.

O barbeiro é além do seu ofício, um contador de causos inusitados, transformando seu salão em um verdadeiro palco onde desopila o fígado dos frequentadores que vão lá só com a finalidade de rir. No final do dia pinga e um pedaço de mortadela cotizada pela rapaziada. 

Tudo de bom! 

A vida é madrasta! 

Nos presenteia com a vida e alguns momentos de prazer, depois nos toma tudo!

Vida que segue!

29/06/2024

Pedro Parente


quinta-feira, 27 de junho de 2024

VALORIZAÇÃO DO TRABALHO

 VALORIZAÇÃO DO TRABALHO

Tenho ouvido, algumas pessoas reclamando, muito indignadas por não encontrar mais pessoas dispostas a prestar serviços nas casas de moradia, na forma de “bico”. 

Essas pessoas no final da tarefa eram remuneradas com um prato de comida e um pouco de dinheiro insuficientes no trato de si próprio e muito menos de sua família.

Parece que o tempo mudou e ensinou alguma coisa aos menos protegidos pela sorte de não terem nascido em família pródiga. 

Foi-se o tempo em que no anúncio da venda de imóveis, constava: “Apartamento com quarto de empregada” discriminando aquela pessoa humana que por vezes desempenhava a função de mãe. 

Sem hora de folga, levantava-se cedinho para preparar o café e ia trabalhando até servir o jantar ou a ceia. Após lavar a louça, banho e cama. Exausta não tinha ânimo de ir à rua, também porque naquele horário o comércio já estava fechado restando apenas bares e restaurantes.

Muitos falam que “são vagabundos e não querem trabalhar!”.

“Ledo engano!”

Ao longo de vários anos após aplicação de vários projetos sociais aprenderam a valorizar seu esforço pessoal, seu trabalho.

Na minha maneira de ver essa transformação, percebo um avanço da classe operária, não aqueles que exercem suas funções em grandes empresas e que não podem administrar seus salários restando a eles apenas aceitar aquilo que lhes impõem.

Me refiro aos autônomos. 

Por exemplo, uma boa diarista que tenha sua agenda lotada e é fato comum, cobra R$200,00 (duzentos reais) o dia. Se ela quiser trabalhar somente cinco dias da semana estará recebendo mil reais. O mês tem quatro semanas ela apura R$4.000,00. Recebe a vista, sem nenhum desconto e burocracia de recibos, folha de pagamento. Tem o final de semana livre para seu descanso e lazer com a família. Administra seu trabalho e orçamento, se quiser paga a previdência através de carnê.

Vida muito mais digna e decente!

27/06/2024

Pedro Parente




terça-feira, 25 de junho de 2024

AVENTURA PRAIANA

 

AVENTURA PRAIANA

Sem distinção e sem preconceito nossa turma na praia possuía todos os matizes, negros e brancos; ricos e remediados; jovens e maduros.

Só alegria!

Algumas vezes uma “arengação” (desentendimento), porém só durava até a descida do chope gelado do Clipper goela abaixo.

Vivíamos em harmonia e uma convivência pacífica respeitando-se ideias e opiniões divergentes.

Nesse clima de alegria, a cada minuto uma conversa inventando uma nova aventura.

Certo dia, conforme combinado no final de semana anterior, alguns ousados e destemidos “marujos” que tinham domínio sobre o mar chegaram a praia carregando câmaras de ar de pneu de caminhão devidamente calibradas no Posto do Paulinho na esquina do canal do Jardim de Alah.

Eram uns dez rapazes. Lançaram-se ao mar que naquele dia estava calmo rumo às Ilhas Cagarras. Todas de pedra e distante cinco quilômetros da praia do Leblon. Não dá para descansar, pois não tem praia. A correnteza é muito forte. Ali faleceu o técnico do Flamengo Cap. Cláudio Coutinho praticando pesca submarina.

Nossos intrépidos marinheiros não tendo como descer, resolveram voltar pois a sede já começara a fazer efeito e os imprevidentes não levaram água de beber.

De repente de uma hora para outra, “o tempo virou”. Na linguagem praiana significa que mudou para pior.

As dificuldades aumentaram. O vento sudoeste entrou contudo transformando a aventura num pesadelo.

Uma das boias furou sobrecarregando aquela que restou. Fizeram revezamento. Enquanto uns nadavam outros descansavam na boia. As coisas ficaram difíceis e o cansaço tomou conta dos rapazes.

A salvação é que o vento sudoeste sopra em direção ao litoral ali naquele ponto, assim sendo ajudou a empurrá-los na direção da praia.

Conseguiram chegar extenuados na praia já vazia pela ação do vento.

Todos salvos!

No dia seguinte, depois do susto, só comentários. Alguns riam e outros ainda com taquicardia.

Não houve “segunda vez”!

25/06/2024

Pedro Parente

segunda-feira, 24 de junho de 2024

TALENTO MUSICAL

 TALENTO MUSICAL

Outrora, quando o Rio ainda era a Capital do Brasil, o mundo era outro, ainda campeava uma certa inocência entre as pessoas. 

Dificuldades para ganhar o pão sempre existiu e as pessoas usavam de seu talento e criatividade para superá-las.

Nessa lida diária tendo que “matar um leão por dia” os mais prejudicados, como sempre, são os mais pobres, normalmente moradores do morro que por estarem mais perto do céu parece um incentivo à poesia.

Nesse ambiente os talentos do morro se reuniam e produziam músicas que eram verdadeiras obras de arte onde o samba era preponderante.

Era comum as parcerias entre amigos na composição das músicas, mas o problema estava na divulgação feita somente através das Rádios AM e Ondas Curtas que tinham longo alcance. Ainda hoje a região amazônica é coberta pelo Rádio por motivos óbvios.

Pois bem os compositores dependiam de alguém que se interessasse por suas obras, para isso faziam fila na porta da Gravadora Odeon, na rua Visconde de Inhaúma no Centro a procura de um daqueles grandes intérpretes. 

Muitas obras eram escritas em “papel de pão.” Quando aparecia um cantor virava um tumulto terrível, todos com seus papéis em punho rodeavam aquele que poderia ser a tábua da salvação na defesa do “leite das crianças”.

Muitos compravam, colocavam seu próprio nome e recebiam os direitos autorais.

Contam que no morro da Mangueira haviam dois compositores e intérpretes famosos Cartola e Nelson Cavaquinho. 

Certo dia os dois se encontraram e o Cartola falou:

- Nelson tem um negão aí no morro dizendo que aquele samba que fizemos em parceria é dele, como é isso?

- Cartola meu amigo, a minha parte eu vendi!

Se abraçaram e foram tomar mais uma na baiuca. 

24/06/2024

Pedro Parente


sábado, 22 de junho de 2024

ESTACIONAMENTO

 

ESTACIOAMENTO.

Quando morei no Rio, anos 60, o fusca dominava as ruas da cidade.

Era o mais querido e preferido pela moçada. Botinha sem meia, calça jeans e blusa vermelha compunham o uniforme dos proprietários, claro que tinham as exceções dos mais velhos e comportados cidadãos que com dificuldade adquiriam seus carrinhos.

Era tão simpático o fusca que o Jorge Bem Jó compôs uma música o incluindo: ...” tenho um fusca e um violão/sou Flamengo tenho uma nega chamada Tereza...”.

Com tanta propaganda a moda me pegou.

Grana curta tive que fazer umas estrepolias, tomei dinheiro emprestado, trabalhei fazendo horas extras no Banco e adquiri um fusquinha usado que virou meu xodó. Coloquei dois faróis de milha um sonzinho e fui em frente, rindo de orelha a orelha achando que estava num Porsche.

Já naquela época começava a dificuldade de se encontrar vaga e os estacionamentos, praticamente não existiam.

Uma noite cheguei do trabalho no fusquinha e encontrei uma vaga exprimida em frente ao prédio dos Jornalistas onde eu morava. Era hábito nas vagas de ruas, deixar os carros com a direção reta e os freios de mãos abaixados ficando os carros soltos para facilitar a manobra dos usuários. Somente os que ficavam no fim e no começo da fila é que puxavam os freios.

Muito democrático!

Numa atitude muito egoísta, consegui enfiar o fusquinha naquela vaga diminuta não deixando espaço para quem fosse sair poder manobrar.

Entrei no bar do Seu Antônio, português boa praça, lhe pedi uma bebida, quando entra um homem branco, vermelho de ódio estampado no seu rosto, se dirigiu a mim e perguntou de quem era aquele fusca que o imprensou na vaga?

O homem estava possesso. Tive medo!

Pensei comigo: Qualquer atitude em falso corro o risco de levar um tiro no peito e morrer por causa de uma vaga.  Poderia ter tirado meu carro para ele sair, pois era mais velho. Fiquei na minha, fiz cara de paisagem e ouvido de mercador saí de fininho.

Depois de várias manobras o homem foi embora cuspindo maribondos.

Superado aquele momento de tensão, sentei- numa mesinha de ferro do boteco e relaxei tomando uma boa cerveja com uma guiazinha de Pitu.

“Mas vale um covarde vivo do que um herói morto!”

22/06/2024

Pedro Parente

ESTACIOAMENTO.

Quando morei no Rio, anos 60, o fusca dominava as ruas da cidade.

Era o mais querido e preferido pela moçada. Botinha sem meia, calça jeans e blusa vermelha compunham o uniforme dos proprietários, claro que tinham as exceções dos mais velhos e comportados cidadãos que com dificuldade adquiriam seus carrinhos.

Era tão simpático o fusca que o Jorge Bem Jó compôs uma música o incluindo: ...” tenho um fusca e um violão/sou Flamengo tenho uma nega chamada Tereza...”.

Com tanta propaganda a moda me pegou.

Grana curta tive que fazer umas estrepolias, tomei dinheiro emprestado, trabalhei fazendo horas extras no Banco e adquiri um fusquinha usado que virou meu xodó. Coloquei dois faróis de milha um sonzinho e fui em frente, rindo de orelha a orelha achando que estava num Porsche.

Já naquela época começava a dificuldade de se encontrar vaga e os estacionamentos, praticamente não existiam.

Uma noite cheguei do trabalho no fusquinha e encontrei uma vaga exprimida em frente ao prédio dos Jornalistas onde eu morava. Era hábito nas vagas de ruas, deixar os carros com a direção reta e os freios de mãos abaixados ficando os carros soltos para facilitar a manobra dos usuários. Somente os que ficavam no fim e no começo da fila é que puxavam os freios.

Muito democrático!

Numa atitude muito egoísta, consegui enfiar o fusquinha naquela vaga diminuta não deixando espaço para quem fosse sair poder manobrar.

Entrei no bar do Seu Antônio, português boa praça, lhe pedi uma bebida, quando entra um homem branco, vermelho de ódio estampado no seu rosto, se dirigiu a mim e perguntou de quem era aquele fusca que o imprensou na vaga?

O homem estava possesso. Tive medo!

Pensei comigo: Qualquer atitude em falso corro o risco de levar um tiro no peito e morrer por causa de uma vaga.  Poderia ter tirado meu carro para ele sair, pois era mais velho. Fiquei na minha, fiz cara de paisagem e ouvido de mercador saí de fininho.

Depois de várias manobras o homem foi embora cuspindo maribondos.

Superado aquele momento de tensão, sentei- numa mesinha de ferro do boteco e relaxei tomando uma boa cerveja com uma guiazinha de Pitu.

“Mas vale um covarde vivo do que um herói morto!”

22/06/2024

Pedro Parente

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de junho de 2024

SABARÁ

 SABARÁ

“Dom Hélder Câmara foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1952, da qual foi secretário por 12 anos, e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), em 1955.”

Na década de 50, por iniciativa de Dom Helder foi erguida no Leblon a Cruzada São Sebastião. Um conjunto habitacional destinado a abrigar a pobreza com mais dignidade. 

Num local super valorizado ao lado de clubes da elite branca e cheirosa é claro que causou indignação aos escravocratas, porém, Dom Helder um “cabra macho” não deu ouvidos às lamúrias e construiu l0 blocos com duas alas, mais de novecentos apartamentos pequenos, mas decentes. Quem os adquiriu comprometeu apenas 15% do salário mínimo em prestações de longo prazo sob a égide do Presidente Café Filho.

Foi aí que vivi vários momentos felizes da minha vida. 

Ali morava meu amigo Sabará. Negro esguio, de físico atlético, motorista de profissão, morador respeitado no recinto. Chamavam-no pelo nome de Seu Carlos.

O apartamento era muito pequeno e abrigava a família do Sabará, dona Ana e três filhos pequenos. 

A necessidade obriga o pobre a ser criativo e dar seu jeito. A cama das crianças era armada a noite. Durante o dia eram fechadas e dependuradas na parede da sala. O casal dormia num quarto separado.

Sabará jogava vôlei conosco na nossa rede de praia onde exercia sua função com maestria, suas cortadas eram indefensáveis. 

Certo dia me convidou para o aniversário de seu filho Fabinho e que ia rolar um samba. Imaginei como seria o samba em um espaço tão pequeno. 

Então vamos lá!

Num cantinho da sala, sob uma janela havia um toca-discos e vários vinis de samba do bom. Dona Ana me recebeu de braços abertos com muito carinho e sem nenhum preconceito de cor, pois eram todos negros de quem tenho imensa saudade.

Sabará acionou o som e começamos os “trabalhos”. Cerveja, pinga e tira-gostos da Ana.

O som do samba foi atraindo a rapaziada, a birita subindo e dali a pouco a casa estava cheia. A varanda de acesso à escada era comum para todos os moradores do andar. Ali, também, virou Sambódromo. A pressão aumentando, as mocinhas dando o recado com samba no pé e ninguém parado. Sorrisos e abraços não faltavam. 

Quanta felicidade!

De repente Ana grita:

-Carlinhos! Os meninos estão trocando tiros lá embaixo!

Sabará largou tudo desceu correndo e berrou com os delinquentes: 

- Para de atirar!

Pegou as crianças no colo em segurança e ao subir a escada ordenou:

-Pode começar!

Briga de compadre. Dois pivetes cada um atrás de um pilar gastando munição que quando acabou, correu um para cada lado.

Já em casa, com as crianças a salvo o samba continuou em harmonia.

Após suculenta feijoada e já de “cara cheia” todos procuraram seu rumo.

Só restou saudade daquele dia e do amigo Sabará e sua família.

14/06/2024

Pedro Parente





domingo, 16 de junho de 2024

AVERSÃO A GATOS

 AVERSÃO A GATOS

Quando criança morávamos em uma casa grande pois a família era numerosa. O quintal era proporcional a casa com muito espaço onde meu pai criava umas galinhas e cultivava arvores frutíferas.

Vivendo integrados com a natureza era comum a convivência com animais domésticos como cachorros e gatos. 

Certo dia uma das galinhas produziu vários pintainhos, entre eles, um destoava da cor amarela predominante. Era preto com manchinha amarela na crista. Preparei uma caixinha de papelão de guardar sapatos e dela fiz sua casinha. Forrei-a com algodão e areia. Naquela criaturinha depositei todo meu carinho infantil e nos tornamos amigos íntimos. Quando já franguinho me acompanhava pelos cômodos da casa sob bronca da minha mãe que não admitia sujeira dentro de casa.

Amanheceu corri para ver meu amiguinho e achei só penas que eram as digitais do gato. Naquele instante tive minha primeira decepção com o mundo, aquele animal malvado acabou com meu sonho. 

Guardo em minha retina aquela imagem até hoje!

Daquele dia em diante passei a ter repulsa por esse tipo de felino tratando-os com desprezo e rancor sem considerar que o animal apenas obedeceu seu instinto.

O tempo, mestre do mundo que coloca tudo em seu devido lugar, foi passando e eu carregando o rancor comigo. Mudei para minha casa onde vivo atualmente com minha família, mulher, filho, nora e uma linda netinha de três anos.

Nossa casa é retirada num agradável arrabalde onde travei uma luta inglória com ratos do campo que invariavelmente amedrontavam nossas moradoras. 

Bicho asqueroso e repulsivo não tinha nada que os detivesse. Lembrei-me que em minhas andanças ouvi alguém dizer que rato tem medo até do miado do gato. 

Impotente na minha luta, passei a mensagem para meu filho e minha nora. Não demorou um dia e eles chegaram com dois gatos, um adulto e outro filhote. 

Os ratos sumiram e eu me enchi de afeto por eles, o menor, muito audacioso sobe na minha cama e vai cheirar meu bigode, o adulto já é mais tranquilo enquanto escrevo me faz companhia salivando ao ver os passarinhos que voam de galho em galho no pé de manacá.

Agora em paz com os “bichanos” tento me redimir admirando-os.

“Somente os idiotas não mudam de opinião!” (NR).

Vida que segue!

16/06/2024

Pedro Parente


quarta-feira, 12 de junho de 2024

"Si hay gobyerno soy contra"

 "Si hay gobyerno soy contra"


Este é um lema usado na Europa em protesto contra administração do país. Surgiu na Espanha e adaptou-se ao mundo.

No Brasil não é diferente. 

Somente uma parte da população aceita a política administrativa exercida pelo Governo a outra parte se regozija com suas dificuldades. Até o congresso aliado ao Banco Central sabotam medidas urgentes benéficas à população. 

A mídia cheirosa omite as relevantes vitórias obtidas principalmente na área econômica que entre tantas trouxe o Brasil para o oitavo lugar entre as maiores economias do mundo tendo recebido do governo anterior em décimo terceiro lugar; superávit de US$ 3,6 bilhões no primeiro quadrimestre; conquista de milhares de empregos formais; baixa no preço dos combustíveis e várias outras conquistas sociais...

Deputados da oposição transformaram a Câmara num local de chicanas e ofensas exacerbadas aos adversários políticos. A própria mídia progressista por ter lutado para eleger o Lula, se acha no direito de criticá-lo diariamente, embora esteja ciente das dificuldades. 

O Gustavo Conde, grande defensor do Lula, produtor de várias “lives” diárias na Net, gasta metade do tempo em se vangloriar de suas virtudes pessoais, embora literato, se nivela a outros de menos cultura. Nas entrelinhas deixa escapar seus ciúmes de membros do governo e quando sobra tempo ataca a atual administração do Brasil.

Procuro entender as dificuldades governamentais e imaginando como estaria nosso país em caso de reeleição do governo passado.

Estamos apenas a um ano e seis meses tendo que enfrentar a tragédia no Estado do Rio Grande do Sul e recebido o país com os cofres praticamente zerados.

Tenho certeza que ao final do mandato do Lula o Brasil estará bem melhor que antes e seu índice de aceitação repetirá o da última vez 87%.

Viva o Brasil!



12/06/24

Pedro Parente